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'O governo não tem uma cara': troca na comunicação não basta para reverter queda na aprovação de Lula, dizem analistas

Fracasso da gestão em criar marca própria, inflação e domínio da oposição no debate público impactam avaliação, opinam especialistas

Nicolas Iory / Don Carlos Leal
15/02/2025 08h59 - Atualizado há 2 semanas
O governo não tem uma cara: troca na comunicação não basta para reverter queda na aprovação de Lula, dizem analistas
O presidente Lula no lançamento do Pé-de-Meia. - Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo / Reprodução
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A queda na aprovação do governo Lula registrada pelo Datafolha reflete ao mesmo tempo o fracasso do Planalto em criar marcas perceptíveis no dia a dia dos brasileiros, o peso da inflação dos alimentos nos ânimos da população, e a capacidade da oposição em tomar a dianteira de narrativas que pautam o debate público, como no caso das fake news a respeito de uma falsa intenção do governo em taxar o Pix.

A queda na aprovação do governo Lula registrada pelo Datafolha reflete ao mesmo tempo o fracasso do Planalto em criar marcas perceptíveis no dia a dia dos brasileiros, o peso da inflação dos alimentos nos ânimos da população, e a capacidade da oposição em tomar a dianteira de narrativas que pautam o debate público, como no caso das fake news a respeito de uma falsa intenção do governo em taxar o Pix.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO são unânimes ao avaliar que, embora Lula tenha acertado ao reconhecer a necessidade de mudar a comunicação do Planalto trazendo para a Esplanada o ministro Sidônio Palmeira, esta não é uma bala de prata capaz de reverter, sozinha, a curva da rejeição do governo. Assim como não o são as viagens de Lula nas últimas semanas.

— O governo sofreu um nocaute no episódio do Pix, num processo que mostrou que a oposição tem muita bala na agulha para construir narrativas sobre algo que importa muito para as pessoas, que é o próprio dinheiro, e que o governo tem sido incapaz de combater. O governo até agora não tem uma cara, um eixo claro. Lula resgatou programas de 20 anos atrás e sua gestão agora está pouco antenada com o mundo de hoje — analisa o cientista político Eduardo Grin, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

De acordo com a professora Camila Rocha, diretora do Centro para Imaginação Crítica do Cebrap, pesquisas qualitativas feitas ao longo dos últimos meses vinham indicando a “falta de entusiasmo” dos eleitores com o governo, o que agora se acentuou e deu lugar à avaliação de que “de fato, as coisas não estão decolando”:

— Temos percebido que esse desânimo atingiu o próprio eleitorado do Lula, que agora reclama mais do aumento do custo de vida e da comunicação do governo. Como se o presidente não desse a cara a tapa e estivesse na defensiva. O episódio do Pix só piorou essa percepção, deixando o contraste de uma direita com comunicação ágil enquanto o governo se mostrava incapaz de contrapor.

Os problemas na comunicação do Planalto surgem tanto no silêncio quanto na fala. Declarações do presidente como a sugestão feita no início do mês para que as pessoas não comprem algo no supermercado se acharem caro contribuem para o derretimento da imagem do governo, avalia Carlos Ranulfo, da UFMG.

— Precisa apresentar resultados. O governo tem dados bons no nível macro, como a queda da taxa de desemprego e alta do Produto Interno Bruto (PIB). Mas as pessoas vivem no nível micro. Elas querem saber do preço que pagam na comida no supermercado, se a vida está melhorando — afirma Ranulfo, que sugere “cautela” com resultados da nova pesquisa, já que estes podem indicar um “solavanco”.

O professor da UFMG vê necessidade de acelerar a reforma ministerial para dar mais espaço aos partidos aliados e, com isso, fazer avançar propostas no Congresso:
— A reforma tem que olhar para fora do cercadinho do PT, porque se não der espaço para os aliados, não vai adiantar. Tem que fazer esse aceno para avançar com a sua pauta. É aproveitar que o Congresso não tem como emparedar o governo, já que precisará negociar para destravar emendas parlamentares, e a direita conservadora está sem um nome claro para a eleição de 2026.

Tendência negativa
O diretor da Quaest, Felipe Nunes, defendeu na sexta-feira que os resultados confirmam a tendência negativa apresentada pela Genial/Quaest. Em janeiro, a pesquisa já mostrava piora na aprovação do governo. “Resgatar a credibilidade política entre os grupos que participaram da coalizão eleitoral de 2022 é a principal tarefa”, disse em publicação nas redes.

Pesquisas de avaliação não são comparáveis às sondagens eleitorais, em que o respondente compara um nome com o outro ao responder. Ainda assim, um resultado negativo como o do Datafolha emite sinais para a disputa presidencial, segundo Rocha:

— Está claro que as pessoas esperavam mais. Mas quando é para votar, o eleitor vota com a emoção. A pesquisa acende um sinal amarelo.

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FONTE: O GLOBO
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