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11/03/2021 às 07h00min - Atualizada em 11/03/2021 às 07h00min

Lula ataca Moro e Lava Jato e diz que "país não tem governo"!

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Ex-presidente Lula atacou Bolsonaro e negacionismo e disse que pretende se vacinar contra Covid-19(Foto: Reprodução, Facebook)
Na primeira entrevista após ter condenações anuladas, ex-presidente criticou gestão de Bolsonaro na pandemia defendeu vacinas e evitou falar sobre 2022. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atacou a gestão da pandemia pelo governo de Jair Bolsonaro na primeira manifestação após ter as condenações anuladas, o que o permite novamente disputar eleições. Lula chamou de a administração de Bolsonaro de "desgoverno", agradeceu o Supremo e disse que a "verdade prevaleceu".

Em fala de improviso, Lula se disse agradecido ao ministro Edson Fachin (STF) por ele "ter cumprido o que a gente reivindicava desde 2016". "Fiquei feliz com a verdade." Disse que suas amarguras estão superadas, afirmou estar tranquilo, mas que ainda quer a punição do ex-juiz Sergio Moro, responsável por sua condenação no caso do tríplex de Guarujá que o deixou preso por 580 dias em Curitiba. O petista voltou a chamar de "quadrilha" os procuradores da Lava Jato de Curitiba. "Moro sabia que a única forma de me pegar era pela Lava Jato. Eles tinham como obsessão, queriam criar um partido político. Mas a verdade prevaleceu." Disse que em 2018 se entregou à Polícia Federal contra a sua vontade e o fez porque tinha clareza sobre as inverdades sobre ele e provar a sua inocência em relação à Lava Jato. "Eu tinha tanta confiança e consciência que esse dia chegaria, e ele chegou." Na fala desta quarta, disse que foi vítima "da maior mentira da história jurídica em 500 anos de história do país" e afirmou que sua ex-mulher, Marisa Letícia, morreu diante da pressão que a família sofreu diante das acusações e investigações. Lula também criticou a atuação da imprensa em geral, como a divulgação de delações premiadas da Lava Jato e também na cobertura jornalística sobre a revelação do conteúdo das mensagens da Lava Jato, material obtido em 2019 pelo Intercept Brasil e divulgado por diferentes veículos de imprensa, entre eles a Folha.

Lula criticou "faltar de prioridade" na compra de vacinas
Lula atacou o que chamou de falta de prioridade do governo na compra de vacinas, mas sim na compra de armas, voltando a citar as milícias e suas suspeitas de ligações com a família Bolsonaro. "A dor que eu sinto não é nada", disse Lula, ao apontar as vítimas da pandemia e em uma crítica velada à gestão de Bolsonaro.

O ex-presidente citou as pessoas que passam fome diante da crise econômica, lembrou das vítimas e de seus parentes e enalteceu ainda o que chamou de heróis e heroínas do SUS, sucateado, segundo ele, pela atual gestão federal. Em sua fala de improviso, o petista relembrou sua trajetória desde o sindicato ao início na vida política e enalteceu os que sempre acreditaram em sua inocência. Citou inclusive a carta que recebeu do papa Francisco.

Aliados de Lula no PT e em outros partidos foram convidados para a entrevista. Estava ao seu lado dele o ex-prefeito Fernando Haddad, lançado como pré-candidato do PT à Presidência há algumas semanas, além da presidente nacional petista, Gleisi Hoffmann, entre outros. O ex-presidenciável Guilherme Boulos (PSOL), que sempre se posicionou contra as condenações de Lula e concorda com a tese de perseguição da Justiça, também participou do evento. Convidado pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, não compareceu. Ciro Gomes, presidenciável da sigla, quer marcar distância em relação a Lula, embora tanto ele quanto Lupi tenham sido solidários ao petista quando ele foi condenado e preso. A entrevista foi presencial, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). Apenas equipes de imprensa entraram no prédio. O PT pediu que militantes não fossem ao local, para evitar aglomerações em meio ao pior momento da pandemia do coronavírus.

'Este país não tem governo', diz Lula, contrapondo Bolsonaro
Durante o discurso que antecedeu a entrevista, Lula não poupou ataques ao presidente Bolsonaro. "Este país não tem governo, este país não cuida da economia, não cuida do emprego, não cuida do salário, não cuida da saúde, não cuida do meio ambiente, não cuida da educação, não cuida do jovem, não cuida da menina da periferia", afirmou Lula (PT) em crítica ao atual presidente.

Em seu discurso após ter as condenações anuladas pelo ministro do STF Edson Fachin, Lula marcou outros pontos de distanciamento em relação ao presidente. Além de defender a vacinação, Lula afirmou mais de uma vez que a Terra é redonda e que respeita a ciência e o SUS. Lula também disse que as armas devem ser direcionadas às polícias e às Forças Armadas, e não para a sociedade, como defende Bolsonaro. O petista fez questão de acenar a líderes mundiais que o apoiam, em oposição ao isolamento de Bolsonaro. Lula citou Pepe Mujica, papa Francisco e Alberto Fernandéz. O ex-presidente também elogiou jornalistas. Afirmou que a liberdade de imprensa é um pilar da democracia.

Lula pretende se vacinar na próxima semana
O ex-presidente Lula (PT), 75, disse que pretende se vacinar na próxima semana, com qualquer vacina que tenha à disposição. "Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República e do ministro da Saúde, tome vacina", afirmou. Disse ser possível uma frente de esquerda para derrotar Jair Bolsonaro (sem partido) em 2022, mas que é preciso paciência para discuti-la e construi-la nos próximos meses.

Lula falou sobre o tema ao enaltecer seu vice de 2003 a 2010, o empresário José Alencar. O petista também disse que ainda é cedo para pensar em candidatura própria do PT ou dos demais partidos de esquerda. "Vai ser bem pra frente que a gente vai discutir." O ex-presidente lembrou que o PT polariza nas eleições desde 1989, citando as disputas seguintes, e que isso deve ocorrer novamente em 2022 entre esquerda e direita -citando o presidente Bolsonaro.

Lula diz que Ciro "precisa se reeducar"
Questionado, Lula respondeu às recentes críticas de seu ex-ministro Ciro Gomes (PDT), também pré-candidato ao Planalto. Segundo o petista, "Ciro precisa se reeducar e aprender a respeitar as pessoas". "Ele acha que ele é o quê? Ele primeiro tem que se reeducar. Se ele continuar com essas grosserias todas, sabe qual vai ser o fim do Ciro Gomes? Ele não vai ter apoio da esquerda, não vai ter a confiança da direita", completou. O ex-presidente ainda se disse chateado com a declaração do apresentador Luciano Huck, segundo o qual o petista será uma figurinha carimbada nas eleições de 2022. Ainda na entrevista, voltou a atacar a Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro, responsáveis por suas condenações que o deixaram 580 dias na prisão entre abril de 2018 e novembro de 2019. Lula disse que não pode levar a sério as manifestações recentes de clubes militares, mas admitiu sua preocupação com a postagem do general Eduardo Villas Bôas, em 2018, para pressionar o STF (Supremo Tribunal Federal) a mantê-lo preso. "Não é correto um comandante do Exército ter feito isso". Em recente livro, o general da reserva disse que a publicação de um tuíte em 2018 para pressionar a corte um dia antes do julgamento que levou à prisão do ex-presidente Lula (PT) foi elaborada por ele junto com "integrantes do Alto-Comando" das Forças Armadas. Sobre as reações do mercado à sua candidatura, chamou isso de especulações, já que pretende priorizar o investimento produtivo e a geração de emprego, caso seja eleito presidente em 2022.

Decisão anulou condenações de Lula
Na última segunda-feira, o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou a anulação de todas as condenações proferidas contra o ex-presidente Lula pela 13ª Vara Federal da Justiça Federal de Curitiba, responsável pela Lava Jato. Lula, 75, tinha sido condenado em duas ações penais, por corrupção e lavagem de dinheiro, nos casos do tríplex de Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia (SP). O ministro do STF entendeu que as decisões não poderiam ter sido tomadas pela vara responsável pela operação e determinou que os casos sejam reiniciados pela Justiça Federal do Distrito Federal. Assim, as condenações que retiravam os direitos políticos de Lula não têm mais efeito e ele pode se candidatar nas próximas eleições, em 2022. Lula estava enquadrado na Lei da Ficha Limpa, já que ambas as condenações pela Lava Jato haviam sido confirmadas em segunda instância.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) já decidiu recorrer contra o habeas corpus de Fachin. A informação foi confirmada por assessores do procurador-geral Augusto Aras. Lula foi solto em novembro de 2019, após 580 dias preso na Polícia Federal em Curitiba, beneficiado por um novo entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) segundo o qual a prisão de condenados somente deve ocorrer após o fim de todos os recursos. Lula começa sua jornada à eleição no ano que vem buscando fugir do que o PT vê como uma armadilha: ser considerado pelo eleitorado um polo tão extremo quanto Jair Bolsonaro. O tema tem sido discutido por aliados do líder petista desde que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, restaurou seus direitos políticos ao anular condenações da Operação Lava Jato. Há um consenso de que a polarização com Bolsonaro tem de ser modulada pelo óbvio: não alienar nem o eleitorado que abraçou o antipetismo de 2016 para cá, mas que antes apoiou Lula, nem os agentes financeiros. Isso não significa, contudo, uma reedição da famosa Carta ao Povo Brasileiro, documento de 2002 em que Lula beijava a cruz do mercado prometendo manter a política liberal do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002).

Deu certo, e o namoro entre mercado e governo do PT só começou a sofrer abalos reais a partir das gestões de Dilma Rousseff (2011-16), que amplificou políticas instituídas nos dois anos finais das administrações de Lula. Agora, contudo, petistas de alto escalão avaliam ser dispensável um compromisso -ao contrário, basta se colocar retoricamente como uma alternativa racional, urbana, à turbulenta gestão de Bolsonaro. A primeira reação dos mercados à liberação de Lula foi negativa, com um misto de repetição do temor que o PT provocava nos anos de crise de Dilma com a expectativa de que Bolsonaro inclinará seu governo para uma gestão mais populista e autoritária prevendo o embate com o petista. Lula tem sido aconselhado a vestir um figurino de estadista mais sereno, fazendo a defesa institucional de aspectos que considera positivos de seu governo. Sua proverbial agressividade de palanque ficaria, se o cenário se confirmar, para itens incontestáveis de crítica a Bolsonaro -como seu manejo da pandemia, que já tem mais de 260 mil mortos no país.

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