07/01/2025 às 14h49min - Atualizada em 07/01/2025 às 14h49min
Zuckerberg se aproxima de Trump e Meta anuncia fim da checagem de fatos
O anúncio contraria tendência no STF sobre redes e preocupa governo Lula
Darlan Helder / Paula Salati / Vivian Souza / Don CarlosLeal
G1
Presidente eleito dos EUA e Mark Zuckerberg, CEO da Meta. - Foto: Reprodução / Redes Sociais A Meta anunciou nesta terça-feira (7) que está encerrando o seu programa de verificação de fatos para adotar as "notas de comunidade", um recurso similar ao implementado pela plataforma X, de Elon Musk. O anúncio da mudança foi feito pelo próprio presidente-executivo da empresa, Mark Zuckerberg, em uma publicação no Instagram. "Vamos nos livrar dos verificadores de fatos e substituí-los por Notas da Comunidade, semelhantes ao X, começando nos EUA", afirmou. "Isso significa que identificaremos menos conteúdos problemáticos, mas também reduziremos a remoção acidental de postagens e contas de pessoas inocentes", completou.
Durante o vídeo, Zuckerberg acenou a Donald Trump e disse que a empresa vai trabalhar com o presidente norte-americano. Depois, sem apresentar provas, ele afirmou que "os países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar que as empresas retirem as coisas silenciosamente".
Após o anúncio, o presidente eleito dos EUA disse que a Meta "percorreu um longo caminho", segundo a agência de notícias Reuters.
Segundo João Brant, secretário de Políticas Digitais da Secom (Secretaria de Comunicação Social), a frase de Zuckerberg sobre "tribunais secretos" foi uma referência ao Supremo Tribunal Federal. Ao anunciar a mudança, o presidente da Meta ainda disse que "os verificadores de fatos têm sido muito tendenciosos politicamente e destruíram mais confiança do que criaram".
"O que começou como um movimento para ser mais inclusivo tem sido cada vez mais usado para calar opiniões e excluir pessoas com ideias diferentes, e isso foi longe demais", disse ele. A Meta enviou um comunicado escrito pelo vice-presidente de assuntos globais da companhia, Joel Kaplan, confirmando as mudanças anunciadas pelo CEO.
"Permitiremos que as pessoas se expressem mais, eliminando restrições sobre alguns assuntos que são parte de discussões na sociedade e focando a moderação de conteúdo em postagens ilegais e violações de alta severidade", disse Kaplan.
Ao citar Donald Trump, Zuckerberg expressou entusiasmo, afirmando que finalmente poderá trabalhar ao lado do presidente norte-americano no próximo mandato. Trump toma posse no dia 20 de janeiro. Nesse momento, ele fez críticas à atuação de países europeus e latino-americanos, sem citar nomes.
"Vamos trabalhar com o presidente Trump para pressionar os governos de todo o mundo, que visam perseguir empresas americanas e pressionar para implementar mais censura", afirmou o dono da Meta. "A única maneira de combater essa tendência global é com o apoio do governo dos EUA. E é por isso que tem sido tão difícil nos últimos quatro anos, quando até mesmo o governo dos EUA pressionou pela censura", afirmou Zuckerberg.
O bilionário afirmou que os EUA possuem "proteções constitucionais mais fortes", e que "a Europa tem um número crescente de leis que institucionalizam a censura e dificultam a construção de algo inovador". Nesse momento, ele declarou que "os países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar que as empresas retirem as coisas silenciosamente".
Secretário do governo Lula diz que Zuckerberg fez referência ao STF
João Brant, secretário de Políticas Digitais da Secom, comentou o vídeo de Zuckerberg em suas redes sociais e disse que o dono da Meta fez referência ao Supremo Tribunal Federal.
"O anúncio feito hoje por Mark Zuckerberg antecipa o início do governo Trump e explicita aliança da Meta com o governo dos EUA para enfrentar União Europeia, Brasil e outros países que buscam proteger direitos no ambiente online (na visão dele, os que ‘promovem censura’)", afirmou Brant.
"É uma declaração fortíssima, que se refere ao STF como ‘corte secreta’, ataca os checadores de fatos (dizendo que eles ‘mais destruíram do que construíram confiança’) e questiona o viés da própria equipe de ‘trust and safety’ da Meta – o que ‘justifica’ uma manobra para fugir da lei da Califórnia e levar a equipe para o Texas."
Brant ainda afirmou que a posição de Zuckerberg "só reforça a relevância das ações em curso na Europa, no Brasil e na Austrália, envolvendo os três poderes – Judiciário, Legislativo e Executivo".
Entenda a mudança na Meta
Como era: a Meta contava com parceiros de verificação de fatos ("fact checking", em inglês) para auxiliar na moderação de postagens, além de uma equipe interna dedicada a essa função.
Como fica: em casos de conteúdos considerados pela Meta como de "menor gravidade", os próprios usuários poderão adicionar correções aos posts, como complemento ao conteúdo, de forma semelhante ao que é feito no X (veja exemplo abaixo).
"Agora, nosso foco será em filtros para combater violações legais e de alta gravidade. Para casos de menor gravidade, iremos depender de denúncias, antes de tomarmos qualquer ação", afirmou Zuckerberg no vídeo.
Segundo ele, os filtros de verificação serão ajustados e aprimorados para se tornarem mais eficientes e precisos na análise antes de decidir pela remoção de um conteúdo.
Sem explicar os motivos, Zuckerberg acrescentou que a equipe de "confiança, segurança e moderação de conteúdo" será transferida para a Califórnia, enquanto a revisão dos conteúdos postados nos EUA será centralizada no Texas (EUA).
Além disso, o presidente da Meta disse que as plataformas voltarão a recomendar mais conteúdos de política. "Por um tempo, a Comunidade pediu para ver menos política porque estava deixando as pessoas estressadas. Então paramos de recomendar essas postagens", disse ele.
"Mas parece que estamos em uma nova era agora, e estamos recebendo feedback de que as pessoas querem ver esse conteúdo novamente. Então, vamos começar a colocar isso de volta no Facebook, Instagram e Threads, enquanto trabalhamos para manter as comunidades amigáveis e positivas."
A nova política anunciada pela Meta surpreendeu alguns parceiros de verificação de fatos que colaboravam com a empresa na moderação de conteúdo, segundo a agência Reuters.
"Não sabíamos que essa mudança estava acontecendo e isso é um choque para nós", disse Jesse Stiller, editor-chefe da Check Your Fact.
Linda Yaccarino, CEO do X, classificou a decisão de Zuckerberg como uma "jogada inteligente" e expressou a expectativa de que outras redes sigam pelo mesmo caminho.
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