11/04/2024 às 13h46min - Atualizada em 11/04/2024 às 13h46min
O erro que Lula e o STF cometem em relação a Musk
Não é possível defender a democracia no grito
Ricardo Rangel / Don Carlos Leal
VEJA
Elon Musk, o "absolutista da liberdade" que apoia liberticidas como J. - Imagem: Jair Bolsonaro e Donald Trump - Twitter /PR / Reprodução Há dias, só se fala em Elon Musk e nas diatribes que publicou no X/Twitter. No mesmo dia — um domingo — Alexandre de Moraes publicou decisão afirmando que coisas terríveis aconteceriam com o bilionário se ele descumprisse suas ordens: “AS REDES SOCIAIS NÃO SÃO TERRA SEM LEIS! AS REDES SOCIAIS NÃO SÃO TERRA DE NINGUÉM!”, escreveu (assim mesmo, em maiúsculas).
No dia seguinte, o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, meteu a colher no angu, afirmando que “decisões judiciais podem ser objeto de recursos, mas jamais de descumprimento deliberado”. Integrantes do primeiro escalão do governo Lula, como os ministros Alexandre Padilha e Paulo Pimenta, criticaram Musk. O próprio presidente já tocou no assunto duas vezes.
O bolsonarismo e seus arredores aproveitaram a oportunidade para avançar a narrativa da “ditadura do Judiciário” e defender Jair Bolsonaro a qualquer preço. (O Partido Novo passou pelo constrangimento de vestir Musk com uma camiseta laranja). E o resto do Brasil rachou, a direita aplaudindo Musk e a esquerda criticando-o.
Musk é um narcisista e um hipócrita, que diz defender a liberdade de expressão, mas censura qualquer um que diga o que não quer ouvir e curva-se sem piscar à censura chinesa (onde está sua empresa Tesla). É também um delinquente, disposto a descumprir a lei para dar megafone a liberticidas.
Não é propriamente uma voz respeitável para falar de liberdade, cidadania, democracia ou mesmo sobre o papel das redes sociais no debate público. Então por que o tratamos como se o fosse? Musk faz furor porque estamos tão viciados em polêmica e briga, em escolher um lado (mesmo que os dois lados estejam errados), que nem sequer refletimos sobre o que discutimos.
É especialmente grave que autoridades da República caiam nessa armadilha. Ao darem a Musk mais importância do que merece, ao tratarem-no como interlocutor que mereça resposta fora dos canais competentes e da sobriedade institucional, essas autoridades legitimam o arrivista. Rebaixam-se a seu nível e dão munição para os delinquentes que se esforçam para derrubar a democracia. É um erro grave: dois terços das mensagens sobre o assunto nas redes deram razão a Musk.
Precisamos retornar à normalidade democrática, menos trepidante e com menos adjetivos, maiúsculas e microfones. Quanto mais insistimos na gritaria, maior o risco que corre a democracia.
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