12/10/2023 às 18h26min - Atualizada em 12/10/2023 às 18h26min
Quarenta crianças massacradas numa comunidade em um dia de Herodes
Algumas das pequenas vítimas foram decapitadas, em cenas que traumatizaram até militares e socorristas israelenses acostumados a ver tudo
Vilma Gryzinski
VEJA
Martirizados: mortos são retirados de Kfar Aza, a comunidade onde foram encontradas até crianças decapitadas. - Foto: Jack Guez / AFP / Reprodução “É uma coisa que nós imaginávamos ter acontecido na época de nossos avós, nos pogroms na Europa e outras partes”, comparou o general Atai Veruv, contemplando a devastação no kibutz de Kfar Aza. “Vemos os bebês, as mães, os pais, nos seus quartos, nos cômodos blindados, e como os terroristas os mataram. Não é uma guerra, não é um campo de batalha, é um massacre”.
Ele também relatou ter visto corpos de crianças executadas junto com os pais e com cachorros das famílias. Kfar Aza passou dois dias sob controle dos terroristas do Hamas, que chegavam em ondas sucessivas. Depois de liberada, foi um dos lugares ao qual jornalistas israelenses e estrangeiros puderam ter acesso. Alguns choraram. Entre tantos horrores, a morte de cerca de quarenta bebês e crianças obscurece tudo o mais, como se um Herodes moderno tivesse assumido a face do mal absoluto.
Algumas das pequenas vítimas foram decapitadas, segundo o soldado David Ben Zion, ouvido por um canal local, o I24. É difícil até escrever isso, imaginem para as pessoas que têm a tarefa de retirar os mortos. Tradicionalmente, isso é feito em Israel pela organização chamada pela sigla Zaka, formada por judeus ultrarreligiosos que acreditam que precisam recolher todas as partes de cada corpo – na época dos atentados suicidas de homens-bomba, eles chegavam a usar pinças. Segundo suas crenças, que não são unânimes entre os judeus, os corpos têm que estar o mais íntegros possível, pois assim ressuscitarão no fim dos tempos.
Um dos voluntários dessa organização disse que já viu tudo em trinta anos de atividade, mas nada comparável às cenas de Kfar Aza. “Pelo menos quarenta bebês foram retirados nas macas”, descreveu a repórter Nicole Zedek, da I14, abalada com o que ouviu de soldados engajados no resgate sobre “bebês com as cabeças cortadas”. Alguns corpos estavam ao lado dos bercinhos.
Kfar Aza entra assim para a lista de lugares mártires onde já estão o acampamento no deserto onde 260 jovens que participavam de uma rave foram chacinados, inclusive os brasileiros Ranani Glazer e Bruna Valeanu. Outro dos epicentros da barbárie foi a comunidade de Kibutz Beeri, com 107 vítimas.
A enorme quantidade de vítimas inocentes e a monstruosidade de atos inomináveis como a decapitação de crianças dificultam uma intervenção como as habitualmente feitas pelos Estados Unidos, o único país com cacife para pressionar por uma trégua, em geral negociada através do Egito. No momento, valem as palavras fortes e emocionadas de Joe Biden sobre “o mal em estado puro e sem filtros” desfechado sobre Israel. As pressões virão depois.
Note-se que o Egito nunca abre fronteiras para que os civis de Gaza se refugiem dos bombardeios – ao contrário, não quer ser contagiado pela famosa capacidade de desestabilização dos palestinos, menos ainda de fanáticos fundamentalistas como os do Hamas que, se pudessem, como seus inspiradores da Irmandade Muçulmana, acabariam com o governo de Abdel Fatah Al-Sissi. Para dar uma ideia dos oobstáculos: um visto para o Egito comprado no mercado clandestino custa quatro mil dólares.
A passagem foi bombardeada ontem por Israel, resolvendo um problema para o Egito.
Os bombardeios vão continuar, inclusive os que são feitos sem o método tradicional da “batidinha”: um drone deliberadamente fraco explode sobre um edifício para avisar que ele será bombardeado em breve e os moradores devem abandoná-lo.
Benjamin Netanyahu já comunicou a Biden que a campanha aérea será seguida por uma invasão por terra, e muito mais agressiva do que as anteriores, de forma a garantir que, nas palavras do ministro da Defesa, Yoav Gallant, “Gaza nunca mais volte a ser a mesma”.
Há previsões de que toda a campanha dure meses, um teste brutal para o primeiro-ministro Netanyahu, cujo futuro político corre enormes riscos de ser engolido pelo tremendo fracasso de segurança em todas as instâncias que permitiu uma invasão fronteiriça tão extensa e letal.
Voltará Israel a ocupar Gaza? Seria um avanço extremo e sem garantias de apoio político unânime. Ariel Sharon deixou Gaza em 2005 considerando que a encrenca de manter o território, ocupado na guerra de 1967, era maior do que o desgaste político de tirar a população judia que havia se instalado em comunidades agrícolas lá (todas as estufas e outras instalações deixadas intocadas foram destruídas pelos palestinos que as tomaram). Na época, ainda eram os simpatizantes da Organização para a Libertação da Palestina que passaram a controlar o território. Os fundamentalistas islâmicos do Hamas tomaram Gaza e eliminaram a concorrência em 2007.
Assim se delineia o dilema de Israel: voltar a ocupar Gaza, com grande custo humano e consequências políticas graves, ou achar alguma outra maneira que impeça ataques como os do 7 de outubro e atos inomináveis como a decapitação de bebês.
Aceitam-se respostas, com uma condição: não podem começar com o clássico da hipocrisia, “Condeno os ataques contra civis israelenses, mas…”. Nesse caso, mais do que em qualquer outro, só vale o que vem depois do “mas”. Está aí Celso Amorim, o chanceler de fato, para comprovar. Suas palavras: “Isso não se justifica, volto a dizer, mas o que eu vejo é o resultado dessa atitude, do aumento dos assentamentos israelenses, é a dificuldade de avançar no plano de paz”.
Mais um pouco, e israelenses estarão se autoeliminando só para atrapalhar as iluminadas ideias de paz dos muitos e nada disfarçados inimigos de Israel.
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