08/07/2023 às 09h53min - Atualizada em 08/07/2023 às 09h53min
Tony Garcia mostra diálogo com Sergio Moro falando de “acordo”
Empresário, que era réu, telefonava e falava com o então juiz do seu caso, que dizia que “precisava divulgar condenações” porque “o pessoal iria cobrar”
Henrique Rodrigues
FÓRUM
Empresário paranaense Tony Garcia, então réu na 13ª Vara Federal de Curitiba, conversa com o então “chefão” da Lava Jato, Sergio Moro . - Imagem: Montagem / Reprodução Desta vez, ao que parece, o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR) terá dificuldades para provar que em seus anos de magistratura agia de maneira “normal”, dentro da lei e respeitando o que se espera de funcionários públicos que exercem tal função. Uma conversa pelo telefone divulgada pelo empresário paranaense Tony Garcia mostra o então “chefão” da Lava Jato conversando naturalmente com ele, então seu réu na 13ª Vara Federal de Curitiba, e tratando abertamente de “acordos”.
No diálogo, Moro parece arrogante e despreocupado, ante um Garcia implorando para que “o acordo seja cumprido” e pedindo para que o juiz não fique divulgando na mídia suas sentenças e condenações, porque isso estaria destruindo sua vida. O agora senador parece não ligar muito para as súplicas do empresário e diz que “precisa divulgar” porque se não o fizer “o pessoal vai ficar cobrando”, numa conversa absolutamente absurda e incompatível entre o homem que julgava processos da esfera federal e um de seus acusados que estava sob julgamento.
Tony Garcia – “Agora, eu sei que o senhor comentou... Mas doutor Sergio, é o seguinte... Preciso só lhe fazer uma pergunta pra ver como vamos lidar com isso... Nós estamos chegando nos ‘finalmente’, e uma coisa só que me preocupa: quando for a sentença, seja qual for e tal, isso aí, o senhor vai dar publicidade nisso daí?"
Sergio Moro – “É, veja, eu sei que tu é uma pessoa publicamente exposta, né... Aí, assim, o que acontece? Se eu não divulgar, o pessoal vai ficar cobrando... Então eu prefiro divulgar, entendeu, informa de maneira...”
Tony Garcia – “Eu era, agora não sou mais, nem concorrendo eu tô nas eleições, nada, doutor Sergio... Doutor Sergio, veja, pra eu cumprir esse acordo, pra eu fazer tudo, eu vou depender muito do que estou restabelecendo da minha vida... A perda que causa na vida da gente esse tipo de coisa, o senhor não pode imaginar... Agora, eu só quero fazer o seguinte: se tem uma maneira de nós sentarmos com o senhor, com Ministério Público, nós, a defesa e tudo, de a gente ver uma maneira, doutor Sergio, que não me deixe uma coisa, uma empresa ou alguma coisa assim... Eu não sei como que é feito isso, porque envolveu empresa como organização criminosa, como isso, como aquilo...”
Sergio Moro – “Não, o que importa é o senhor... “ / Tony Garcia – “Isso, não, não... que envolvia empresa... Não, não... falaram, citaram nome, o Paulo Pimental citou o Baltimore, tudo”
Sergio Moro – “É, essa empresa (inaudível)...” / Tony Garcia – “Eu sei, mas nessa, quando dá...”
Sergio Moro – “Não vou tocar no nome da Baltimore...” / Tony Garcia – “Não vai ser tocado em nome de empresa, nada disso? Vai ser tocado no nome da minha pessoa?"
Sergio Moro – “Sim... Do que foi decidido do consórcio Garibaldi...” / Tony Garcia – “Uhum... No setor de comunicação, quando é meu nome, você sabe o que acontece, né... Primeira página”
Sergio Moro – “É... Eu vou divulgar, esse conteúdo eu vou divulgar porque na verdade é um processo que é uma grande publicidade aí por conta de sua exposição pública, né... E assim, acho que tá sendo divulgado porque...”
Tony Garcia – “Mas doutor, vou pedir pro senhor, encarecidamente, que seja de uma maneira que não me macule de tal maneira que eu não possa mais trabalhar para conseguir, inclusive, cumprir e deixar esse ônus da Baltimore, que eu não queria...”
Sergio Moro – “Eu vou provavelmente divulgar uma informação sucinta... Que foi condenado... E também devo divulgar no caso das condenações, termos... E provavelmente ter que deixar meio público aí, e falar alguma coisa... Falar alguma coisa que a pena foi ‘x’... Eu vou tratar como dano, por exemplo...”
Tony Garcia – “É... É alguma coisa que não acabe comigo comercialmente, né... Pra eu poder continuar a trabalhar, é só isso que eu vou pedir ao senhor.
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