21/06/2023 às 00h01min - Atualizada em 21/06/2023 às 00h01min
Você acha que um líder mundial incentiva o alcoolismo ao levantar um copo de bebida?
Uma das peculiaridades do presidente francês, Emmanuel Macron não é beber demais, mas ser odiado demais tanto pela esquerda quanto pela direita
Vilma Gryzinski / Don Carlos Leal
VEJA
Bebida e poder: Macron foi criticado por virar cerveja de uma tacada só. - Imagem: Montagem O arrumadinho presidente francês tem casca grossa, como provou sua resistência quando o mundo veio abaixo com sua reforma da aposentadoria. Até um gesto banal — virar uma cerveja de uma tacada só — desencadeou uma enxurrada de críticas. Ninguém acredita que Macron tome Corona habitualmente, mas ele estava num dos lugares com os mais altos índices de testosterona do planeta, o vestiário depois da final de um campeonato de rúgbi. Tinha que fazer bonito. Foi incentivado e aplaudido pelos jogadores do Toulouse que, no dramático instante final, viraram o jogo contra o bravo La Rochelle. Como o rúgbi é um esporte de hooligans jogado por cavalheiros, o time e o pessoal técnico fizeram um pacto de silêncio sobre a performance do presidente. Claro que o vídeo não só vazou como viralizou. Claro que Macron foi criticado. “Ele associou esporte com festa e consumo de álcool num contexto de emulação viril onde todo mundo está bebendo muito”, acusou Bernard Basset, diretor de uma instituição para pessoas com adição. O problema não é uma cerveja virada para ficar bem na foto, mas a crise de popularidade. Ele tem aprovação na faixa de magros 30%. A maioria dos franceses não consegue engolir que o país precisa mudar as aposentadorias, mesmo ligeiramente, para tornar sustentável o sistema de benefícios que provê o mínimo, e até alguns extras, para todos. Uma pesquisa mais recente dá a Marine Le Pen 42% das preferências numa futura eleição presidencial, da qual Macron, já no segundo mandato, não participaria. A eleição será apenas em 2027, o que dá tempo para muita coisa acontecer, inclusive Macron fortalecer um sucessor que não derrube, à la terceiro mundo, tudo o que está fazendo ao preço de tanta impopularidade. Se conseguir isso, com 64% dos franceses declarando atualmente que não confiam nele, merecerá várias rodadas de “tchin-tchin”, como dizem os franceses.
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