26/02/2023 às 15h49min - Atualizada em 26/02/2023 às 15h49min
Apesar da prefeitura pedir o contrário, turistas voltam às praias em São Sebastião após tragédia
Prefeitura pediu empatia com o objetivo de evitar sobrecarregar o atendimento em hospitais e o abastecimento de água e de alimentos
Emílio Sant'Anna / Estadão
UOL
Administração tenta evitar sobrecarga ainda maior no atendimento em hospitais e no abastecimento de água e alimentos - Foto: Felipe Rau / Estadão / Reprodução Na beira da água, um homem enquadra bem uma garota e a clica saindo do mar. A poucos metros, duas amigas posam para uma selfie sorridente. Areia branca, sexta-feira de sol, a temperatura passa dos 28ºC em Maresias. Na ponta da praia, onde o rio desemboca no mar, três pequenos barcos de pescadores com cerca de uma tonelada de comida, roupas e produtos de limpeza se preparam para vencer as fortes ondas que se formam na saída do canal.
É a ajuda para os cerca de 500 desabrigados apenas em um bairro de São Sebastião, litoral norte de São Paulo. Esse, inclusive, é um dos motivos que fez a prefeitura pedir para que as pessoas não frequentem as praias da cidade.
"No sé (não sei), no sé nada", diz a turista espanhola que há dez dias está hospedada em Maresias e não quer se identificar. Sobre as mortes no bairro vizinho, Vila do Sahy, tampouco diz saber de algo. O sol e o calor estão mais fortes do que a vontade de conversar. De longe, sob a proteção do guarda-sol de sua barraca, a vendedora Marta Higina Barroca Scheide Lopes, de 54 anos, sendo 11 de praia, não julga, apenas observa. Seu sustento vem dali, das pessoas que desprezaram a mensagem da prefeitura: Vamos ter empatia! Vamos ter solidariedade! Não é o momento para os turistas visitarem São Sebastião".
Opiniões "Não tivemos o carnaval, agora tem gente, não muita, mas tem", afirma Marta. "Esse movimento para mim vai dar uns 10% do que seria normal." Sobrinha de pescadores, a autônoma Barbara Furtado, 26 anos, discorda da presença dos turistas. Essas pessoas não ligam para nada. Quem perdeu tudo não foram eles, então estão aqui na praia" Barbara Furtado, uma das responsáveis por arrecadar alimentos para os desabrigados Os três barcos deixam Maresias, passam ao largo por Boiçucanga e entram no Rio Cambury, onde uma corrente de voluntários descarrega as doações rumo à Igreja Videira, no chamado "sertão" do bairro — a parte pobre, distante do mar.
Na igreja, uma fila se forma para pegar marmitas e as roupas que chegam. Responsável pelo trabalho, a pastora Rebeca Amaro de Almeida, de 35 anos, está desde domingo fora de casa. O imóvel foi interditado. "Não importa, tem muita gente que perdeu mais do que isso", diz.
Para ela, ver turistas na praia nesta sexta-feira não diz muito. "Isso aqui (o trabalho voluntário) não é para todos", afirma. "É bom que fiquem lá, curtindo a praia, a cerveja, o que for, aqui a gente se vira e faz."
Justificativa
A prefeitura orienta turistas a não viajarem para São Sebastião. O objetivo, segundo a administração, é evitar sobrecarregar o atendimento em hospitais e o abastecimento de água e de alimentos. Outra alegação é a de que as rodovias precisam estar desobstruídas para que veículos de socorro e de resgate possam circular livremente.
Nesta semana, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) também pediu para que os turistas que viajaram para a região por causa do carnaval voltem para suas casas na capital ou outros pontos do Estado para "aliviar a pressão" sobre os serviços locais. Nesta sexta-feira, seis dias após as fortes chuvas que atingiram o litoral norte, o governo do Estado anunciou a desobstrução de todos os trechos da Rodovia Rio-Santos (SP-055) bloqueados por causa dos temporais.
#BoaTardeRioDosCedros #DiárioDeRioDosCedros #RioDosCedros #DonCarlosLeal #NotíciasRioDosCedros #RioDosCedrosDebate #TurismoRioDosCedros #CulturaRioDosCedros #TuristasViltamAsPraiasSãoSebastião