Se escutarem por aí alguém dizendo que se Bolsonaro estivesse no poder seria diferente, não acreditem. Trump estaria fazendo exatamente a mesma coisa que está fazendo agora. E, ainda assim, tem gente torcendo pelo protecionismo de Trump, na esperança de que isso possa enfraquecer o governo Lula, às custas da economia, da balança comercial e dos empregos brasileiros. A não ser que Lula, em algum dos seus discursos de improviso, resolva pisar nos calos do americano, a postura da diplomacia deve ser cautelosa. Principalmente porque as medidas são unilaterais, ou seja, não são tarifas direcionadas apenas ao Brasil.
O governo dos Estados Unidos anunciou nesta quinta-feira (10) que as taxas sobre produtos chineses foram elevadas para 145%, frustrando parte das expectativas de uma trégua na guerra comercial iniciada por Donald Trump. Na véspera, o presidente norte-americano havia surpreendido ao mudar o tom, aliviando a pressão sobre outros parceiros comerciais dos EUA, embora esses países ainda estejam sujeitos, desde sábado (5), a uma tarifa extra de 10% sobre suas exportações para o mercado norte-americano.
Diante da firmeza de Pequim, que vem respondendo quase na mesma medida, o presidente havia dito na quarta-feira que a sobretaxa sobre produtos chineses subiria para 125%.
Mas nesta quinta-feira (10), a Casa Branca detalhou, por meio de decreto presidencial, que a tarifa total será de 145%, considerando outros 20% já impostos anteriormente por Trump como punição à China por abrigar fábricas ligadas à produção de fentanil — opioide responsável por uma grave crise de saúde pública nos EUA.
A nova sobretaxa vai atingir a maior parte dos produtos chineses, mas não todos — semicondutores, por exemplo, ficarão isentos — e será adicionada às tarifas que já estavam em vigor antes do retorno de Trump à Casa Branca.
Os mercados reagiram mal. Em queda desde a abertura, os índices norte-americanos afundaram: por volta das 13h10 (horário de Brasília), o Dow Jones caía 4,20%, o Nasdaq — com forte presença de empresas de tecnologia — recuava 5,78%, e o S&P 500 perdia 4,71%.
O petróleo e o dólar também recuaram, refletindo o temor de uma desaceleração forte da economia. O ouro, por outro lado, bateu novo recorde.
Já os mercados asiáticos e europeus haviam subido na esteira do recuo anunciado na véspera: alta de 9% em Tóquio, 4,53% em Frankfurt e 3,83% em Paris.
Ouro bate recorde
Garantia de segurança em meio à turbulência comercial iniciada por Donald Trump no começo de abril, o ouro tem atraído cada vez mais investidores, fazendo seu preço disparar e bater um novo recorde nesta quinta-feira.
O metal precioso atingiu o pico de US$ 3.175,07 por onça. E, desde o início do ano, o valor do ouro já subiu mais de 20%.
"Até agora, os metais preciosos foram isentos das tarifas alfandegárias dos Estados Unidos", explica Frank Watson, da Kinesis Money, em entrevista à AFP. Segundo ele, essas tarifas têm como principal objetivo "estimular as indústrias norte-americanas".
Tributar o ouro, de fato, não ajudaria a impulsionar a produção nos EUA, nem a reduzir o déficit comercial norte-americano.
Na esteira da ofensiva tarifária iniciada em 2 de abril pelo presidente dos Estados Unidos, o ouro já havia batido um novo recorde na semana passada.
Embora tenha recuado temporariamente devido a vendas por parte de investidores em busca de liquidez nos mercados, o ouro voltou a subir desde então.
Seu avanço não foi interrompido nem mesmo pelo anúncio feito na quarta-feira por Donald Trump que, em uma reviravolta surpreendente, decidiu suspender temporariamente as principais sobretaxas aplicadas a dezenas de países — com exceção da China.
"Até o fim"
Isoladas na disputa com o governo norte-americano, as autoridades chinesas mantiveram a postura firme nesta quinta-feira, prometendo "lutar até o fim", embora tenham sinalizado disposição para negociar.
"As negociações estão abertas, mas precisam ocorrer em pé de igualdade e com respeito mútuo", afirmou o Ministério do Comércio da China.
Enquanto um acordo não é alcançado, Pequim anunciou que vai reduzir a quantidade de filmes norte-americanos exibidos no país.
A União Europeia, por sua vez, decidiu suspender temporariamente as retaliações, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para "dar uma chance às negociações".
"Se as conversas não forem satisfatórias, nossas contramedidas contra os produtos norte-americanos serão aplicadas", avisou.
A decisão de Bruxelas veio após a reviravolta de Trump, que surpreendeu ao anunciar, na véspera, a suspensão por 90 dias das sobretaxas aplicadas a cerca de 60 parceiros comerciais, incluindo a UE.
"Pressão suficiente"
Kevin Hassett, principal conselheiro econômico da Casa Branca, disse à emissora CNBC que a tarifa-base de 10%, em vigor desde sábado, deve ser mantida. Segundo ele, os Estados Unidos precisam exercer "pressão suficiente" para trazer de volta fábricas e empregos industriais ao país.
Nesta quinta, os países da ASEAN — bloco de dez nações do sudeste asiático — se comprometeram a não adotar medidas retaliatórias contra os EUA. O Vietnã, que enfrentava uma tarifa de 46%, também declarou interesse em ampliar as compras de produtos norte-americanos em troca de um acordo.
"O congelamento das tarifas recíprocas anunciado pelo presidente Trump é um alívio", disse o primeiro-ministro canadense Mark Carney, confirmando que o Canadá e os EUA voltarão a negociar após as eleições federais canadenses, marcadas para 28 de abril.
De acordo com Trump, mais de 75 países já manifestaram interesse em negociar com os Estados Unidos. Em discurso na terça-feira, o presidente norte-americano afirmou, em seu estilo característico, que vários líderes estrangeiros estavam "puxando seu saco" para conseguir um acordo.
O economista Joseph Stiglitz, vencedor do Nobel, criticou a abordagem norte-americana: segundo ele, os países não sabem como lidar com os EUA porque "não há qualquer lógica econômica por trás do que Trump está fazendo".
"É outro mundo", declarou em entrevista ao programa independente Democracy Now!.
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