Larry Page e Sergey Brin lançaram o Google em 1998. - Foto: Reprodução / Getty Imagens “Quem diria que um vestido pode mudar o mundo?”, disse rindo a atriz e cantora Jennifer Lopez, depois que um vestido Versace que ela usou no ano 2000 ajudou a tornar realidade um desejo dos usuários da Internet. As pessoas queriam ver como era o vestido, que ela usou no Grammy, mas o Google da época não tinha a opção de pesquisar apenas por imagens. Todos os resultados dados pelo buscador eram em texto.
O furor com o vestido da cantora foi tamanho que os desenvolvedores do mecanismo de busca lançaram o Google Images, um buscador exclusivo para fotos. Esse foi um dos vários momentos que marcaram a história do Google, criado pelos estudantes universitários Larry Page e Sergey Brin e lançado em setembro de 1998.
Nestes 25 anos, ele se tornou o buscador online mais usado do mundo, além de um conglomerado de tecnologia gigantesco que enfrenta inúmeras críticas e até ações judiciais por sua posição dominante e por suas práticas para aumentar as suas receitas publicitárias.
Larry Page e Sergey Brin eram dois estudantes de doutorado na Universidade de Stanford (EUA) na década de 1990, quando começaram a trabalhar no projeto. No início eles não tinham se dado muito bem, mas se tornaram amigos enquanto desenvolviam um novo sistema de busca na Internet em seu quarto.
Inicialmente o mecanismo se chamava BackRub e listava os resultados com base na popularidade das páginas. Page e Brin depois mudaram o nome para Google, com base no termo matemático “googol”, que é o número 10 elevado à potência de 100.
“O que tornou o Google único no início foram duas coisas: por um lado, o algoritmo PageRank e, por outro, o design claro da página, focado em busca e sem publicidade”, explica à BBC Mundo o pesquisador Dirk Lewandowski, especialista em sistemas de busca pela Universidade Duisburg-Essen (Alemanha). O PageRank é o sistema que ordena os resultados de busca com base em uma série de critérios.
Page e Brin saíram da universidade com o software pronto e levantaram US$ 1 milhão com parentes, conhecidos e outros investidores e, em 4 de setembro de 1998, lançaram comercialmente sua empresa. Em 2005 eles mudaram a celebração oficial do seu aniversário para 27 de setembro. “Quando o Google nasceu, os concorrentes seguiam uma estratégia de portal, ou seja, integrando o maior número possível de serviços (como e-mail, notícias, etc.) em um só site. A busca ficava em segundo plano e os usuários se deparavam com sites desordenados”, destaca Lewandowski.
O Google tinha cerca de 10 mil consultas por dia nas primeiras semanas. Hoje o buscador tem mais de 1 bilhão de buscas por dia em 150 idiomas e 190 países.
O algoritmo todo-poderoso e controverso
Quando um usuário faz uma consulta em um mecanismo de busca, raramente olha além da primeira página de resultados apresentada. Isso faz uma enorme diferença em quais sites e que tipo de informação chegam aos usuários.
Os resultados apresentados no Google não são uma lista aleatória: o algoritmo do buscador se encarrega de filtrá-los e ordená-los. A forma como o algoritmo é projetado e suas consequências passaram a ser mais criticados por analistas de tecnologia nos últimos anos. “A grande promessa do Google era organizar a informação mundial, mas ao longo do último quarto de século, uma enorme quantidade de informação passou a ser pensada para se posicionar bem nos resultados do Google”, diz Nilay Patel, editor-chefe do site de tecnologia The Verge.
“Vivemos num ecossistema de informação cujo design é dominado pelas necessidades do sistema de busca do Google: um robô que pode criar indústrias inteiras com a mesma facilidade com que pode destruí-las”, acrescenta.
Lewandowski explica que o algoritmo original, PageRank, era responsável por avaliar a estrutura dos links da web e obter informações sobre sua popularidade ou qualidade. “Nem todos os links contam da mesma forma, mas o valor do link, por sua vez, depende da quantidade e da qualidade dos links que apontam para ele”, explica.
“Isso significa que um link de um site popular conta muito mais do que um link de um site impopular. Então, por exemplo, se a BBC colocar um link para uma determinada página, isso conta muito mais do que se eu colocar o link para a mesma página do meu blog”, afirma o especialista. Não existe um buscador perfeito, continua ele, pois cada um interpreta o conteúdo da web de forma diferente “e, portanto, na maioria dos casos não pode haver um resultado de pesquisa certo ou errado”.
“Mas isso não significa que o Google não faça muito bem o seu trabalho. Para inúmeras necessidades de informação, esse buscador oferece resultados úteis para responder nossas dúvidas”, afirma Lewandowski. Sendo dominante no setor, a empresa tem enfrentado desafios de entidades governamentais na Europa e nos Estados Unidos, que têm tentado regularizar sua atuação.
O Google enfrenta atualmente o primeiro grande julgamento nos EUA, contra o Departamento de Justiça, que acusa a empresa de realizar práticas monopolistas ilegais por meio de acordos de distribuição anticompetição com fabricantes de telefones celulares e empresas de telefonia. Os advogados do Google negam as acusações e argumentam que desfrutam de sua boa posição no mercado “por seus próprios méritos”.
O pouco conhecido Bert
Uma das maiores inovações para que as máquinas entendam a linguagem humana surgiu recentemente no Google, embora os usuários provavelmente não tenham percebido: o sistema BERT. “Se uma receita de panqueca lhe disser para misturar a massa com a banana, você provavelmente não pensaria em usar a banana como colher para misturar. Mas o que é óbvio para os humanos – coisas como contexto, tom, intenção – é na verdade muito difícil de ser capturado pelos computadores”, explica a empresa.
Os engenheiros criaram o Bidirecional Encoder Representations from Transformers (BERT), um sistema baseado em engenharia de redes neurais que permite que os modelos de compreensão de linguagem do Google sejam treinados na forma como os humanos falam. Foi implementado em pesquisas a partir de 2019 em mais de 70 idiomas.
O BERT ajuda a processar as consultas do usuário, encontrando a definição das palavras no contexto em que são colocadas. E é um sistema de machine learning, ou seja, que é capaz de aprender, por isso refina cada vez mais seus resultados. “Há uma grande diferença entre conhecer as palavras e compreender o significado”, explica o Google.
Antes do BERT, a omissão de preposições, a ordem inconsistente das palavras ou a intenção do usuário geravam respostas menos úteis do que as apresentadas hoje, segundo os desenvolvedores.
O Google Lens
Nas últimas duas décadas, o Google adicionou ferramentas úteis como o tradutor que permite a leitura de páginas em outros idiomas ou a busca por voz que se popularizou nos celulares. Mas um de seus avanços tecnológicos mais importantes foi lançado em 2017: o Google Lens, tecnologia capaz de usar a lente da câmera do usuário para obter informações da internet.
Se uma pessoa deseja saber o nome de uma planta, é difícil obter o resultado perfeito descrevendo em palavras como são as folhas ou flores. Assim como quando você está diante de uma pintura da qual deseja saber o título ou o autor. Além disso, quando você estiver viajando em um local onde se fala outro idioma, usar a câmera para traduzir sinais instantaneamente é muito útil.
É isso que o Lens pode fazer: em linhas gerais, ele funciona comparando os objetos que aparecem na lente com outras imagens semelhantes online e depois classificando sua relevância, retornando uma resposta relevante.
“Suponha que o Lens esteja olhando para um cachorro que identifica com 95% de probabilidade como pastor alemão e com 5% de probabilidade como Corgi. Neste caso o Lens poderia mostrar apenas o resultado correspondente ao pastor alemão, considerado o mais parecido do ponto de vista visual”, afirma o Google. De acordo com seu relatório mais recente, o Lens recebe mais de 12 bilhões de consultas por mês.
Publicidade
A gestão do algoritmo está intimamente ligada a outra crítica que tem sido feita ao Google: os anúncios nos seus resultados. No início, o Google não exibia publicidade, e os seus criadores até se opuseram explicitamente aos mecanismos de busca financiados por publicidade quando publicaram um artigo apresentando o seu projeto.
Mas hoje a Alphabet, controladora do Google, tem outros objetivos. Uma de suas principais fontes de receita é a publicidade que aparece entre os links dos resultados de cada pesquisa realizada pelo usuário. “As pessoas adoram fazer perguntas ao Google e o Google adora ganhar dinheiro respondendo-as”, critica Nilay Patel.
Um problema disto é que muitas pessoas não prestam atenção se estão clicando em um link pago, que atende aos interesses de quem o promove, ou a uma página que aparece nos resultados porque foi selecionada pelo algoritmo. O Google, por sua vez, garante que atua com “transparência” e que os anúncios pagos possuem identificação clara.
“O que o Google definitivamente não faz bem tem a ver com seu modelo de negócios, a publicidade baseada no contexto. Esses anúncios são exibidos na página de resultados de pesquisa e são muito semelhantes aos resultados de pesquisa normais”, diz Lewandowski. “E aqui devemos ter em conta que não há apenas publicidade de produtos e serviços, mas também, por exemplo,de questões políticas e sociais”, acrescenta.
Atualmente Larry Page e Sergei Brin estão afastados da direção pública da empresa. O CEO da Alphabet, Sundar Pichai, respondeu às críticas e desafios legais que a empresa enfrentou nos últimos anos. Numa carta celebrando o 25º aniversário do Google, ele reconheceu que houve “alguns contratempos” e afirmou que você “aprende as lições e trabalha para melhorar”. Mas acima de tudo destacou “a inovação que os fundadores e engenheiros” da empresa fizeram ao longo destes anos.
“Uma verdade essencial da inovação é que no momento em que você ultrapassa os limites de uma tecnologia, ela logo passa do extraordinário para o comum”, escreveu. “É por isso que o Google nunca considerou o sucesso garantido.”
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