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23/06/2023 às 13h19min - Atualizada em 23/06/2023 às 13h19min

Mulheres superinteligentes de SC compartilham suas dificuldades sociais

Desde a falta de reconhecimento ao isolamento social, mulheres reconhecidamente com QI elevado relatam o lado negativo da superinteligência

Júlia Venâncio
ND+
Da esquerda para direita, Marina e Isabella, duas mulheres catarinenses consideradas ‘superinteligentes. - Foto: Reprodução
A catarinense Isabella Vieira de Andrade, de 19 anos, foi diagnosticada como uma pessoa com QI (Quociente de Inteligência) elevado em 2022, durante uma sessão de terapia. Assim como Isabella, pessoas com alto QI podem ser classificadas como “alguém que tem um funcionamento cognitivo superior em alguma área do desenvolvimento humano, em comparação com as outras pessoas da sua mesma idade”, afirma  a neuropsicóloga Priscila Zaia.

Mas o que por um lado é uma benesse, também pode trazer desafios sociais inimagináveis. A estudante de Física da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), conta que ser mulher com superinteligência pode gerar resistência por parte de outras pessoas. “O fato de falar e reconhecer que tenho um QI acima da média, muitas vezes, incomoda as pessoas”, conta. Segundo a Associação Mensa Brasil, instituição que reúne pessoas com alto QI ao redor no mundo, cerca de 2% dos brasileiros podem apresentar sinais de altas habilidades, com um QI acima da média.

Isabella conta que a partir da desconfiança de sua psicóloga sobre a condição, se propôs a fazer uma prova de superinteligência para ter certeza do diagnóstico. “A confirmação veio quando eu fiz o teste de admissão da Mensa, que é uma sociedade de alto QI, onde eu fiquei no top 1 percentil de QI no mundo. Depois disso busquei um diagnóstico formal, onde foi constatada, além da superinteligência, o TEA (Transtorno do Espectro Autista) e TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade)”, explica.

“As pessoas ainda vão duvidar muito da minha capacidade”. Quase um ano após constatar que tem superinteligência, Isabella conta que passou a observar no seu dia a dia o lado negativo de ser uma mulher de alta habilidade cognitiva. “Eu pretendo seguir na área de exatas e, mesmo tendo QI elevado, as pessoas duvidam da minha capacidade e vão me negar muitas oportunidades só pelo fato de eu ser mulher. Mesmo tendo QI elevado, acho que vou sofrer esse preconceito”, relata.

Para a neuropsicóloga, que também é psicóloga supervisora nacional da Mensa Brasil, mulheres com alta capacidade cognitiva costumam ser tratadas com diferença em relação aos homens com as mesmas características. “Quando a gente tem uma menina muito inteligente na escola, o retorno que ela recebe é: ‘que bom, você não está cumprindo mais do que a sua obrigação’. Ter notas boas, ter um bom desempenho acadêmico e ser uma boa aluna é obrigação da mulher. O homem, quando vai bem na escola, ele escuta: ‘nossa, que inteligente’. Existe uma valorização da inteligência do homem em detrimento da inteligência da mulher”, analisa.

A estudante de Física acredita que os maiores desafios de ser uma mulher com superinteligência são os sociais. Ela conta que teve dificuldade de encontrar o seu grupo certo de amigos, por ter ideias diferentes das pessoas com quem convivia. “A gente tem um pouco mais de dificuldade de se encaixar socialmente porque existem padrões sociais de comportamento e aparência. E muitas vezes isso não faz sentido pra mim. Nós [superinteligentes] acabamos desviando um pouco desse padrão. Então pode haver uma dificuldade de fazer amigos e de mantê-los ou mesmo uma dificuldade em conciliar grupos na área de trabalho e tudo mais”, pondera.

Essa também foi uma barreira enfrentada por Marina Ocanha Rodrigues, de 40 anos, moradora de Florianópolis. Diagnosticada com superdotação aos 5 anos de idade, a psicóloga fugia da casa dos pais para ir à escola. “Queria aprender a ler para entender revistas em quadrinhos quando era criança. Então me deixavam participar das aulas sem estar matriculada em razão da idade. Um dia aplicaram uma prova para ver como estavam os alunos e eu era a única na primeira série que estava alfabetizada. Então a Secretaria de Educação me matriculou com base em uma lei sobre necessidades especiais”, conta.

Marina acredita que há mais ganhos do que perdas no fato de ser uma mulher com alto QI, entretanto, garante que uma das objeções “está nas interações prazerosas de comunicação, posto que a inteligência, muitas vezes, te distancia de grande parte das pessoas. Fica difícil ter uma conversa em um padrão mais elevado da norma, mas isso não é algo que no contexto geral possa ser considerado de grande sofrimento, só fica mais difícil”, explica.

De acordo com a neuropsicóloga, para ser considerada uma pessoa com superdotação é necessário realizar o teste de inteligência, no qual a pessoa será comparada ao nível de outras pessoas da mesma idade ou de mesma escolaridade e receberá o valor do seu QI. Diferente de Marina, que recebeu o diagnóstico de superinteligência aos 5 anos de idade, Isabella só tomou ciência da sua superdotação aos 19. Segundo ela, o diagnóstico tardio pode estar atrelado a dificuldade de socialização que apresenta hoje em dia.

“Hoje eu faço uma terapia especializada, o que tem me ajudado muito. Tenho certeza de que se eu tivesse começado antes teria tido muito menos problemas. Teria aprendido melhor a me importar socialmente, como fazer amigos, como manter amizades mesmo pensando tão diferente e tendo interesses tão diferentes”, esclarece. Para ela, o diagnóstico tardio pode trazer sofrimento para a vida das pessoas que são superdotadas e não sabem. “A pessoa pode sofrer muito socialmente e acaba se culpando por isso. Quando, na verdade, é só por causa de um QI elevado”, finaliza.

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