17/06/2023 às 00h01min - Atualizada em 17/06/2023 às 00h01min
Casal é acusado de furtar air fryer e aponta que houve racismo em shopping do litoral de SP
Comerciante Ângela da Silva Soares, de 23 anos, disse que a fritadeira elétrica foi presente da sogra. Dois funcionários de uma loja e um segurança do shopping acusaram o casal de furto em Praia Grande (SP)
Brenda Bento
G1
Ângela da Silva Soares e o marido afirmaram que a fritadeira elétrica foi presente da sogra em um shopping de Praia Grande (SP). - Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução Um casal de comerciantes foi vítima de racismo e acusado de furtar uma air fryer de uma loja de departamentos dentro de um shopping em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Ao g1, nesta sexta-feira (15), Ângela da Silva Soares, de 23 anos, disse que foi abordada por dois funcionários da loja e um segurança do centro de compras no estacionamento do local.
Ela e o marido chegaram ao shopping, por volta das 18h30 da última quinta-feira (8), e entraram em uma primeira loja para consultar o preço da air fryer. Em seguida, o casal entrou na Lojas Americanas e depois foi em um supermercado atacadista, onde efetuou a compra do produto.
"A gente até fez vídeo porque a gente tem uma loja e, de vez em quando, a gente posta nosso dia a dia e até falamos [para os seguidores] que lá estava mais em conta, em promoção", disse Ângela. Ela ganhou a fritadeira elétrica da sogra e até registrou a felicidade do casal com o produto dentro do shopping (veja o vídeo acima).
Segundo a comerciante, após a compra, o casal saiu do atacadista com a caixa da air fryer em mãos e a nota fiscal da compra. Eles retornaram para a Lojas Americanas para olhar sanduicheiras que estavam na promoção. "Quando a gente chegou lá, a funcionária informou que a sanduicheira que a gente queria não era a mesma que estava na promoção. Então, a gente não efetuou a compra".
O casal saiu da loja e foi em direção ao estacionamento para guardar a fritadeira elétrica no carro e seguiu para a primeira loja que haviam entrado com objetivo de olhar formas de silicone. "Meu marido percebeu que tinha um rapaz da Americanas olhando para ele, comentou comigo e falei que deveria ser impressão".
Eles efetuaram a compra na loja em que estavam e caminharam ao acesso 2 para pegar o carro no estacionamento e ir embora. Ao saírem do shopping, os dois perceberam que o funcionário olhava para eles e conversava com um dos seguranças.
"Quando chegamos na faixa de pedestres, fomos abordados por dois funcionários da Americanas junto com um segurança do shopping. O rapaz da Americanas falou para meu marido: 'Você pegou uma air fryer da loja, tem como devolver?' Meu marido perguntou como que era e ele repetiu", conta.
A comerciante perguntou ao funcionário se ele não a viu entrando no estabelecimento com a fritadeira. Em seguida, ela conta que começou a chorar. "Estava nervosa. Meu marido falou que estava com a nota, que pagou pela air fryer e ele [funcionário] estava me acusando pelo o que não fiz".
Ângela disse que ficou nervosa com a situação e que algumas pessoas que presenciavam o ocorrido tentaram acalmá-la. Ela ligou para uma amiga, que é advogada, e a orientou a chamar a polícia e aguardá-la no local.
Descaso na ocorrência
Após 15 minutos, a advogada Ana Paula Marques chegou no shopping. Ângela diz que precisou ligar mais duas vezes à polícia até que dois policiais foram até o local. "Um veio escutar a gente e o outro foi lá dentro escutar o rapaz [funcionário]".
Segundo ela, o policial que coletou o depoimento do casal questionou o motivo de eles não terem pagado R$ 0,20 na sacola do atacadista. "Ele começou a colocar isso em questão como se a gente tivesse forçado a situação a acontecer, feito de propósito para o rapaz vir abordar a gente".
Ângela disse que o mesmo policial descartou que ela havia sido vítima de racismo. "O outro [policial] veio de dentro do shopping e falou 'Nossa, que situação chata vocês passaram. O menino errou, assumiu o erro dele'. Mas, o policial estava olhando torto como se quisesse brecar o que ele estava falando", relembrou.
Segundo ela, o mesmo policial que descartou o racismo teria se recusado a registrar a ocorrência, que foi assumida pelo outro colega de trabalho. "Ainda bem que eu estava com minha amiga [advogada]. Não ia saber como agir nesse momento". Na delegacia, ela contou ainda que o delegado ouviu a versão apresentada por eles e disse que não caberia como crime de racismo.
Sentimento de culpa
Ângela disse que nunca passou por uma situação dessa de ser acusada de algo que não fez. "O único sentimento que eu tive foi de vulnerabilidade. Me senti frágil e, ao mesmo tempo, foi um sentimento de culpa, como se eu tivesse me sentindo culpada por algo que não cometi".
A mulher disse, ainda, que sentiu-se pior com os questionamentos feitos pelo policial. "Como se estivesse questionando a minha índole, falando que eu estava fazendo aquela situação propositalmente, como se a gente estivesse ali visando dinheiro".
Ângela resolveu expor a situação para outras pessoas não passarem pelo o que o casal passou. Ela espera que as empresas capacitem seus funcionários e colaboradores para não fazerem isso com ninguém. "Espero que a Justiça seja feita e que as pessoas envolvidas possam responder pela atitude que elas cometeram".
Danos morais
A advogada afirmou que entrou com um processo cautelar de antecipação de provas contra a Lojas Americanas, uma outra loja do estabelecimento e o Shopping Litoral Plaza, com objetivo de obter imagens das câmeras onde registraram a situação.
"A ação de indenização de danos morais está sendo inscrita e irei entrar com processo cível de indenização por danos morais e no criminal, pois é nítido que houve um caso de racismo e é necessário ampla divulgação para que casos como esse não se repitam nunca mais", disse a advogada Ana Paula.
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