Inteligente e dedicado, menino morto em creche de Blumenau conquistava pela simpatia e educação

Tristeza e incredulidade marcaram último adeus ao menino Bernardo

Bernardo tinha cinco anos - Foto: Reprodução / Instagram

O que as palavras não podiam descrever, o olhar de Neide Cunha para o filho dentro do pequeno caixão conseguia expressar. É tanta incredulidade e dor que apenas uma mãe que perdeu um menino de cinco anos de forma tão brutal é capaz de sentir. Bernardo Cunha Machado, de 5 anos, é uma das vítimas do assassino que matou quatro crianças em uma creche de Blumenau nesta quarta-feira (5).

No velório desta quinta (6), ao lado do marido Bruno Bride Amaral, Neide recebeu o carinho e apoio de centenas de pessoas que passaram pelo Cemitério São José, no Centro da cidade. O silêncio que tomou conta da capela durante a manhã só era interrompido pelas poucas conversas aos sussurros e por choros doloridos.

A cada abraço e frases de consolo, o casal deixava as lágrimas caírem livremente. Marinheiro, Bruno se emocionou quando colegas de profissão chegaram em grupo, fardados. O suboficial João Paulo Titon entregou ao homem uma bandeira do Brasil envolta em uma fita preta, para representar que toda a instituição está de luto. Bruno manteve o presente agarrando junto ao peito em vários momentos, como se o gesto lhe desse forças.

— Ninguém merece passar por isso, mas o [Bruno] Amaral muito menos. Uma pessoa do bem, extremamente altruísta, que fazia de tudo pelo filho — disse o suboficial com a voz embargada e olhos marejados.

Há menos de um mês, Titon conheceu pessoalmente o pequeno Bernardo. Antes disso só ouvia o colega falar do filho no trabalho. Pai de uma menina de mesma idade, o militar compartilhava experiências da paternidade com o parceiro. — Ele era um pai muito dedicado, exemplo mesmo. Fazia de tudo por esse menino. Se tinha um navio diferente em Itajaí, ele pegava o Bernardo e levava para ver — recorda.

Encantado pela profissão do pai, Bernardo adorava tudo relacionado ao mundo militar e à natureza. O animal preferido? A tartaruga. A pelúcia que imitava o bicho era item obrigatório nas idas à creche. O garoto sabia até soletrar a palavra.

Inteligente e amoroso, a criança conquistava a qualquer um pela simpatia e educação. Sempre sorridente, refletia a felicidade de fazer parte de um lar onde o amor transbordava. "Marinheiros de primeira viagem", Neide e Bruno eram extremamente dedicados à criação do único filho.Como explicar, então, que a despedida ao deixá-lo no Centro de Educação Infantil era para sempre?

Para quem estava no velório, não havia como entender ou aceitar. Em comum, todos tinham a sensação de estar anestesiados. Entre uma oração e outra, suspiros longos e choros silenciosos, o pensamento era de que tudo não passava de um pesadelo inimaginável. Mas foi real.

Durante toda a cerimônia e enterro, que ocorreu logo depois das 10h, não se ouviu uma palavra sobre o responsável pelo crime. A vontade que a justiça seja feita, claro, é unânime. Mas todos sabem que ainda que ela ocorra, algo muito importante não pode ser mudado: Bernardo não vai mais voltar. O até logo diante da escolinha era um adeus.

Entenda o caso
O caso ocorreu por volta das 9h de quarta-feira, na Creche Cantinho Bom Pastor. De acordo com a Polícia Militar, o homem, de 25 anos, chegou na escola em uma moto, pulou o muro e matou, aleatoriamente, quatro crianças com o uso de uma machadinha. Depois, o assassino saiu da unidade e foi até o Batalhão da PM, onde se entregou.

Ao todo, quatro crianças morreram e cinco ficaram feridas. As vítimas são Bernardo Cunha Machado, de 5 anos, Bernardo Pabst da Cunha, de 4, Larissa Maia Toldo, de 7, e Enzo Marchesin Barbosa, de 4 anos. De acordo com a vice-prefeita de Blumenau, Maria Regina Soar, os feridos estão bem e devem ser liberados até esta quinta-feira (6).

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