07/06/2021 às 06h30min - Atualizada em 07/06/2021 às 06h30min
Selo de consumo de energia do Inmetro para eletrodomésticos será reformulado
Especialistas criticam a defasagem, que não passa por revisão há mais de dez anos e não ajuda na conta de luz
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Hoje, quase 100% das geladeiras vendidas no país são classificadas como selo A - Foto: Carlos Ivan / Agência O Globo Diante do risco de racionamento de energia e de uma conta de luz bem mais salgada, com a entrada em vigor da bandeira vermelha 2, este mês, a baixa eficiência energética dos eletrodomésticos à venda no país pode ser um obstáculo a mais para a redução do consumo de energia nos lares brasileiros. Especialistas criticam a defasagem do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), do Inmetro, que ganhou popularidade desde o último racionamento de energia, em 2001.
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Naquele que ficou conhecido como o ano do apagão, os selos de eficiência energética se tornaram um dos principais meios de informação do consumidor na hora de escolher os eletrodomésticos mais eficientes para reduzir o consumo. Para se ter uma ideia, as geladeiras, responsáveis por 30% do gasto com energia, só alcançarão em 2026, no Brasil, o padrão de eficiência exigido nos EUA desde 2014.
Atualmente, quase 100% das geladeiras estão classificadas como A. No entanto, o próprio Inmetro admite que há entre elas uma diferença de até 30% no consumo. Na nova regulamentação, em fase de conclusão, o instituto prevê classificação dos refrigeradores em A+, A++ e A+++, representando diferenças de consumo de 10%, 20% e 30%.
Para economizar, ligue o aparelho apenas quando for dormir e desligue logo ao acordar. Uma opção é usar a função sleep, disponível em alguns modelos. Outro cuidado é manter o ar-condicionado em temperatura adequada. Especialistas recomendam 23ºC. Não é preciso colocar temperatura muito baixa, para não gastar muita energia. Em uma família com quatro pessoas, o uso do chuveiro elétrico corresponde a cerca de 25% da conta de luz.
Para economizar, evite banhos muito longos e dê preferência a usar o chuveiro no modo verão, que economiza até 30% de energia. Quando a porta fica muito tempo aberta, o motor funcionará mais, gastando mais energia.
É importante também manter a borracha de vedação da porta da geladeira em bom estado. Ao viajar, uma opção é esvaziar a geladeira e desligá-la da tomada. A substituição de lâmpadas incandescentes pelas de LED pode gerar uma redução de 75% a 85% no consumo de energia. Além disso, essas lâmpadas duram mais. Em relação às lâmpadas fluorescentes, a economia é de cerca de 40%.
Dê preferência a lavar uma grande quantidade de roupas, para economizar água e energia. Evite colocar muito sabão, para não ter de enxaguar duas vezes. Na hora de passar, a melhor opção é juntar roupas e passar uma grande quantidade de uma vez. Desligue o ferro quando for interromper o serviço. Use a temperatura indicada para cada tipo de tecido e comece pelas roupas mais leves.
O uso do ventilador de teto durante 8 horas por dia gera um gasto de apenas R$ 18 por mês. Mesmo assim, é importante evitar deixar o aparelho ligado quando não houver ninguém no cômodo. Na hora de comprar, lembre-se que quanto maior o diâmetro das hélices, maior o consumo de energia.
No caso dos eletrônicos, a recomendação é desligar o televisor e os videogames quando ninguém estiver usando. Retirar os aparelhos da tomada também ajuda a poupar energia.
— Há mais de dez anos o selo de classificação das geladeiras não era revisto. Temos hoje à venda no mercado brasileiro refrigeradores que não chegariam às lojas em países como México, Índia e Quênia. Nem estou comparando com o Primeiro Mundo — diz Clauber Leite, coordenador do programa de Energia, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Ele continua: — Mesmo quando se escolhe um produto classificado como A, o consumidor não tem a seu dispor o melhor desempenho.
Selo Procel é mais eficiente
Menos de 9% dos refrigeradores atuais se classificariam como A+++, o maior nível de eficiência da nova regulamentação, admite Hércules Souza, chefe da Divisão de Verificação e Estudos Técnicos do Inmetro. Ele pondera que classificar esses aparelhos abaixo de A, o que só acontecerá em 2025, significaria para os fabricantes a perda de incentivo tributário, e resultaria em aumento de preço: — O preço mais alto prejudicaria as classes menos favorecidas para as quais o que vale é o que cabe no bolso. E não adianta mudar a classificação abruptamente como fez a Argentina,por exemplo, e não ter aparelho para oferecer na classe A. Lá hoje estão todas classificadas como D.
Souza diz que o programa de etiquetagem vem sendo atualizado. Cita o caso do ar-condicionado, revisto em 2019, e explica que é preciso dar prazo para que a indústria se adapte. Segundo ele, o Inmetro está trabalhando para equalizar as regras de classificação com as implementadas na Europa. A falta de chuvas já compromete reservatórios de hidrelétricas, tornando mais urgente mudanças de hábito de consumo para economizar energia.
Além do selo do Inmetro, há no mercado brasileiro o selo concedido pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) aos aparelhos mais eficientes de suas categorias. Para especialistas, a certificação do programa hoje é uma referência mais fidedigna que a do Inmetro.
Redução de até 30% na conta de luz
O selo é a parte mais visível do Procel, que existe há 35 anos. Em 2020, ações implementadas com a participação do programa em indústrias, edificações e setor público, além da certificação dos equipamentos, resultaram numa economia de energia estimada em 22 bilhões de kWh. Isso representa 5% do consumo total de eletricidade no país.
O país vive uma crise hídrica. Com reservatórios das hidrelétricas baixos, há necessidade de acionar as termelétricas, que produzem energia mais cara, elevando a conta de luz. Por isso, a eficiência energética é fundamental para aliviar o bolso. Especialistas dizem que é possível reduzir em até 30% a fatura mensal em casa com a troca de lâmpadas incandescentes por modelos mais eficientes e de aparelhos de ar-condicionado de janela por splits.
São práticas crescentes no país, segundo pesquisas do Procel, indicando que os brasileiros vêm incorporando esse comportamento desde o apagão de 2001. Bruno Yamanaka, analista do Instituto Akatu, diz que estudos feitos pela entidade apontam na mesma direção: — Desde 2012, vemos uma crescente mudança de hábitos como o de evitar lâmpadas acesas em ambientes vazios e desligar aparelhos quando não estão em uso. Casos como ar-condicionado ligado com janelas abertas, aparelhos em modo stand by e lava-louças usada abaixo da capacidade.
Energia: Governo deve restringir navegação em hidrovia e uso de água para irrigação para evitar racionamento. Clauber Leite, do Idec, reforça que a eficiência energética precisa ser uma preocupação constante, não só em momentos de crise de abastecimento.
Indústria admite atraso
— Campanhas educativas são de fundamental importância. No entanto, é essencial garantir ao consumidor equipamentos que ofereçam de fato melhor eficiência energética e trabalhar com as prefeituras para implementação de políticas como mudanças no código de obras para exigência de uso de energia solar e captação de água da chuva — destaca.
A Eletros, associação que reúne os fabricantes de eletrodomésticos, diz, em nota, que, apesar de a etiquetagem seguir os padrões internacionais, “na norma técnica que embasa a etiquetagem, estamos atrás dos padrões mais atuais”. A entidade diz que, no Brasil, a norma regulatória que embasa o programa de etiquetagem é a IEC 2005, mas internacionalmente se utiliza a IEC 2015. A indústria considera adequado o prazo dado pelo Inmetro e a maneira como pretende implementar a transição a partir de 2022: “Com esta proposta, já haveria uma maior diferenciação dos produtos no ponto de venda. Para a segunda fase, o Inmetro propõe a adoção da norma europeia, ajustada para a realidade climática e socioeconômica do Brasil, já sem subclasses”.
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