19/12/2024 às 08h38min - Atualizada em 19/12/2024 às 08h38min
Alta do dólar: Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, não vê 'ataque especulativo' contra o real
Declaração do diretor de Política Monetária do BC foi durante entrevista coletiva do relatório de inflação do quarto trimestre deste ano, em Brasília
Alexandro Martello / Thiago Resende / Don Carlos Leal
G1
Gabriel Galípolo e Roberto Campos Neto concederam entrevista coletiva juntos nesta quinta (19). - Foto: Adriano Machado / Reuters / Reprodução O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que assume o comando do Banco Central a partir de janeiro de 2025, avaliou nesta quinta-feira (19) que o termo "ataque especulativo" não representa bem como o movimento está acontecendo no mercado atualmente. Ele participou de entrevista coletiva do relatório de inflação do quarto trimestre deste ano, em Brasília.
"Não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, uma coisa só, coordenada. Mercado funciona geralmente com posições contrárias, tem alguém comprando e alguém vendendo. Quando o preço de ativo [como o dólar] se mobiliza em uma direção, têm vencedores e perdedores. Ataque especulativo não representa bem como o movimento está acontecendo no mercado hoje", declarou Galípolo.
Questionado nesta quarta-feira (18) sobre um possível ataque especulativo contra o real, com a disparada do dólar, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não descartou essa possibilidade.
"Há contatos conosco falando em especulação, inclusive jornalistas respeitáveis falando disso. Eu prefiro trabalhar com os fundamentos, mostrando a consistência do que nós estamos fazendo em proveito do arcabouço fiscal para estabilizar isso. Mas pode estar havendo [ataque especulativo]. Não estou querendo fazer juízo sobre isso porque a Fazenda trabalha com os fundamentos. E esses movimentos mais especulativos, eles são coibidos com a intervenção do tesouro e Banco Central", declarou Haddad na ocasião.
O Banco Central efetuou, nos últimos dias, intervenções no câmbio, por meio da venda de moeda norte-americana no mercado à vista e, também, dos chamados leilões de linha (venda com compromisso de recompra, como se fosse um empréstimo). Somente nesta quinta, foram vendidos US$ 8 bilhões no mercado à vista. Mesmo assim, o dólar tem operado pressionado, enquanto analistas aguardam o andamento do pacote de cortes de gastos no Congresso Nacional.
Após bater recorde de R$ 6,30 pela manhã, o dólar arrefeceu e fechou em queda nesta quinta-feira (19), cotado a R$ 6,12. A redução do valor da moeda norte-americana só foi possível graças a dois leilões de dólar realizados pelo Banco Central do Brasil (BC) para aumentar a oferta da moeda no país e conter a desvalorização do real.
'Saída extraordinária de recursos'
Na mesma ocasião, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou que o câmbio é flutuante no Brasil, ou seja, que a cotação da moeda norte-americana sobe e desce de acordo com as operações no mercado, mas avaliou que houve uma saída extraordinária de recursos do país neste fim de ano.
Por isso, explicou que a instituição resolveu intervir com leilões de venda de dólares, como forma de contrabalançar essa saída "atípica" de divisas do país. Segundo ele, o BC não mudou sua forma de atuar no câmbio, ou seja, continua sem meta para o dólar.
Campos Neto aproveitou para dar um recado ao mercado financeiro: disse que o Banco Central "tem muita reserva [internacional, acima de US$ 370 bilhões] e vai atuar [no câmbio] se for necessário".
"Entendemos que começou a ter uma saída maior, atípica, no fim do ano. A parte de dividendos [remessas de empresas ao exterior], você consegue ver que está acima da média. Mas o lucro foi maior também, o que aumenta o fluxo", disse Campos Neto.
Segundo ele, além das tradicionais retiradas de recursos por empresas do país, que se intensificam no fim de cada ano, também está sendo registrado, e monitorado pelo BC, uma saída maior de recursos pelas pessoas físicas, por meio de plataformas de bancos.
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