13/10/2024 às 14h56min - Atualizada em 13/10/2024 às 14h56min
Sem TSE: como uma agência de notícias encurta processo que demoraria semanas para anunciar vencedor da eleição nos EUA
Há 178 anos, a Associated Press desempenha um papel fundamental nas eleições dos EUA, contando os votos, declarando os vencedores e reportando-os ao mundo
Redação G1 / Don CarlosLeal
G1
Eleitora americana vota nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. - Foto: Gatty Images/BBC / Reprodução Uma pergunta será feita repetidamente na noite do dia 5 de novembro, nos Estados Unidos: "quem venceu a eleição presidencial?". Os norte-americanos não possuem um órgão que centraliza a apuração, como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no Brasil. Daí que entra o papel da imprensa. Há 178 anos, a Associated Press é uma das fontes mais confiáveis para contabilizar os votos das eleições nos Estados Unidos. Isso porque a agência reúne os dados de mais de 5 mil disputas eleitorais em todo o país e entrega informações precisas e padronizadas.
Como cada estado tem autonomia própria, o sistema de votação pode variar dentro dos Estados Unidos. Em algumas localidades, a votação acontece em cédulas de papel, enquanto outros possuem urnas eletrônicas. Também é possível votar pelo correio.
Diante dessa complexidade, a apuração dos votos nos Estados Unidos pode demorar dias, com cada estado fazendo a sua própria contagem. Ou seja, pode ser que o público só conheça quem será o novo presidente dias depois da eleição.
Segundo a Associated Press, apenas uma análise cuidadosa e completa de todos os dados eleitorais pode determinar quem será o vencedor. A agência também costuma fazer projeções para indicar quem foi o candidato mais votado em cada estado antes mesmo da apuração ser concluída.
A apuração dos votos
A AP não faz diretamente a contagem manual do voto depositado nas urnas. Esse trabalho é realizado pelas autoridades eleitorais locais que administram as eleições de cada estado dos EUA.
Segundo a Constituição dos Estados Unidos, as regras das eleições são definidas por cada um dos estados. Contando o Distrito de Colúmbia, onde fica Washington D.C., são 51 conjuntos de normas diferentes para a realização das eleições.
Algumas dessas regras são mais favoráveis aos eleitores do que outras.
Em New Hampshire, os resultados das eleições podem ser oficialmente certificados alguns dias após a votação. Já na Califórnia, o processo de tabulação leva várias semanas, e os resultados finais não são disponibilizados até o início de dezembro.
Além disso, o modo como os dados são disponibilizados varia de localidade para localidade. Em algumas jurisdições não são divulgados os percentuais de votos totais, por exemplo. Lembrando que o voto nos EUA não é obrigatório.
A contagem de votos da AP é um esforço para dar sentido a todas essas informações.
“O que estamos fazendo é costurar todos os totais de votos de milhares de condados e cidades em todo o país em um formato único e padronizado, para que os eleitores tenham acesso ao total geral de votos para uma disputa”, afirma o presidente da agência, David Scott.
Voltar ao início.
A eleição presidencial dos Estados Unidos acontece por meio do Colégio Eleitoral. Nesse sistema, cada estado norte-americano tem um peso diferente e pode ser decisivo.
Em tese, vence as eleições quem tiver 270 dos 538 delegados que compõem o Colégio Eleitoral. A Califórnia, por exemplo, tem 54 delegados. Já o Texas, tem 40. O candidato que for o mais votado em um estado leva todos os delegados da área, mesmo que vença por apenas um voto.
Em 2016, Hillary Clinton foi a candidata mais votada nas eleições em âmbito nacional, mas foi derrotada por Donald Trump na soma do Colégio Eleitoral.
Na apuração dos votos, a Associated Press pode declarar o vencedor em um estado antes mesmo de 100% dos votos serem contados.
Para isso, um time de análise faz a contagem de dados que garantem que o candidato que está liderando a disputa não pode mais ser ultrapassado. Para isso são levados em consideração:
andamento da apuração;
combinação do histórico de votos;
dados demográficos;
dados de pesquisas da AP.
Mesmo em disputas acirradas, comparar os padrões de votação atuais com os das eleições anteriores pode fornecer pistas importantes.
Por exemplo, se um candidato democrata estiver obtendo resultados melhores do que o partido teve nas eleições anteriores — em locais onde venceu — isso pode indicar uma vitória mais folgada no pleito deste ano.
Por outro lado, se o candidato republicano estiver indo melhor ou, até mesmo, liderar em um local com tradição democrata, isso pode indicar uma disputa muito acirrada ou uma virada.
Os dados demográficos também ajudam a esclarecer a contagem de votos. Por exemplo, variações em relação às tendências estaduais podem ser explicadas por alterações dentro de um grupo específico, como eleitores hispânicos ou brancos sem diploma universitário.
Um fator que pode dificultar a contagem ou projetar um vencedor é o fato de que, nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório. Sendo assim, as autoridades não conseguem precisar o percentual exato de votos apurados. No entanto, a AP costuma fazer estimativas.
Para isso, assim que a votação começa, a agência solicita informações das autoridades eleitorais sobre o número de cédulas de voto ausente solicitadas e o número de votos antecipados registrados.
Esses números não contêm resultados, que só são divulgados após o fechamento das urnas. No entanto, os dados podem fornecer informações valiosas sobre o perfil das pessoas que votaram.
O grande esforço começa após o fechamento das urnas, quando aproximadamente 4.000 repórteres de contagem de votos da AP se espalham pelos distritos e escritórios eleitorais dos condados americanos.
Um repórter da AP estará presente em quase todos os escritórios eleitorais dos condados no dia da eleição, bem como em cidades e vilarejos-chave, coletando dados diretamente da fonte.
Os jornalistas trabalham com funcionários eleitorais para coletar os resultados diretamente dos locais onde eles são contados. De lá, os dados são enviados por telefone ou eletronicamente. Os resultados são transmitidos ao centro de entrada de votos da AP.
Além disso, a AP monitora sites governamentais oficiais para coletar os resultados. Funcionários eleitorais também enviam dados para agência. Com isso, a apuração das eleições é checada e rechecada por mais de uma fonte de informação.
Nas noites de eleição geral, a AP pode ter até cinco ou seis fontes potenciais de resultados eleitorais em cada condado e escolher entre elas, dependendo de qual está mais atualizada e precisa.
A Associated Press foi formada em 1846 como uma cooperativa de jornais. Ela tabulou resultados eleitorais pela primeira vez dois anos depois, quando Zachary Taylor venceu a eleição presidencial.
O esforço para reunir os resultados de jurisdições em todo o país contou com o uso do telégrafo, durou 72 horas e custou, na época, o valor exorbitante de US$ 1.000.
Em 1916, a primeira transmissão eleitoral foi ao ar em uma pequena rede de radioamadores, de acordo com uma história escrita pelo ex-diretor político da CBS News Martin Plissner.
À época, o apresentador encerrou o programa declarando incorretamente que o republicano Charles Evans Hughes havia derrotado o democrata Woodrow Wilson. A AP anunciou a vitória de Wilson dois dias depois, quando conseguiu reportar os resultados da Califórnia.
No início da década de 1960, a AP e três redes de televisão — ABC, CBS e NBC — estavam realizando contagens de votos independentes. Elas concordaram em unir seus recursos na eleição de 1964 para compilar a contagem para as principais disputas.
Após a eleição de 2016, a AP deixou o pool de redes para continuar sua operação independente de contagem de votos e lançar a pesquisa "AP VoteCast" do eleitorado americano. O levantamento é uma alternativa às pesquisas de boca de urna das redes.
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