MENU

Diário de Rio dos Cedros Publicidade 1200x90
Diário de Rio dos Cedros Publicidade 728x90
15/10/2023 às 23h16min - Atualizada em 15/10/2023 às 23h16min

Professores dizem que não conseguem fazer o papel da família

Profissionais relatam desafios na interação com pais de alunos

Maria Fernanda Silva / Júlia Martins
G1
Professores são pilares essenciais para o desenvolvimento humano e social. - Foto: Freepik / Reprodução
No dia do professor, celebrado no domingo (15), educadores destacam os desafios relacionados à interação com os pais e como isso pode afetar a educação das crianças. Professores são pilares essenciais para o desenvolvimento humano e social. Eles não apenas transmitem conhecimento, mas também inspiram os alunos a perguntar, explorar novas ideias e buscar soluções para os problemas enfrentados pela sociedade.

Esses educadores, muitas vezes subestimados, desempenham um papel fundamental na formação de mentes, na construção de conhecimento e no alicerce do futuro. Mas, infelizmente, nas salas de aula e corredores de escolas, um dos desafios mais complexos enfrentados pelos professores é o relacionamento com os pais dos alunos.

Enquanto alguns pais são parceiros na educação de seus filhos, outros se tornam grandes desafios. Priscila Ricci, professora há 27 anos, conta que a maior dificuldade encontrada atualmente é a falta de comprometimento dos pais na educação de seus filhos. À medida que os filhos vão crescendo, a participação dos pais na educação deles diminui ainda mais.

“Para os pais, a escola tornou-se apenas um local que deveria fazer o que é de responsabilidade deles”, afirma. Ela ainda explica que existem duas vertentes para o termo educação. A primeira é a educação familiar, que aborda os princípios e valores morais e éticos. A segunda é a educação escolar, que tem como propósito auxiliar na construção do conhecimento e habilidades necessárias para contribuir na formação de uma sociedade.

Segundo Priscila, muitas famílias delegam a responsabilidade da educação apenas à escola, o que cria desafios aos professores e a instituição, pois atualmente os alunos não podem ser contrariados, o que dificulta o agir do profissional. “A escola não pode contrariar seus filhos, pois eles podem tudo e são detentores apenas de direitos.”

A blindagem que muitos pais exercem em relação aos seus filhos também é um tema desafiador no contexto educacional. Muitas vezes, essa proteção excessiva pode ter consequências negativas, especialmente quando se trata de não permitir que a criança enfrente situações de frustração ou responsabilidade por suas ações dentro de uma sala de aula, explica o professor Tiago (nome fictício), de Sorocaba (SP).

“Os pais não deixam os filhos se frustrarem em certas situações, como uma nota baixa, alguma bronca, as vezes um celular que acaba sendo recolhido, por que usou em um momento importuno. Nesses momentos é muito comum que os pais façam uma interferência direta em apoio ao filho, o que acaba criando na criança uma espécie de convencimento de que aquilo que ela fez não vai ter prejuízo para ela.”

Aprender com os próprios erros e enfrentar desafios faz parte do processo de amadurecimento e preparação para a vida adulta. Segundo o professor, a interferência excessiva dos pais na rotina escolar de seus filhos também atrapalha os profissionais.

Muitas vezes, os pais desempenham um papel tão ativo na vida escolar de seus filhos que a criança acaba não sendo responsável por sua própria rotina. Isso pode ter consequências significativas no desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade das crianças com as atividades escolares, orientação de trabalhos em grupo, projetos e até mesmo a realização de lições de casa.

O professor enfatiza que, embora o envolvimento dos pais na educação de seus filhos seja necessário e benéfico, existe um limite em que a criança deve assumir a responsabilidade por seu próprio aprendizado, para que possa ter uma autonomia de ir até o professor. “Mas independente de qual setor o professor trabalhe, com toda certeza o mais dificulta o nosso trabalho é a falta de participação dos pais na vida educacional da criança, pois não conseguimos fazer o papel da família”, reforça Tiago.

Papel da famíliaOs pais influenciam diretamente o desempenho acadêmico e desenvolvimento pessoal do filho. O envolvimento deles de maneira equilibrada é essencial para garantir que tenham sucesso na escola e adquiram habilidades importantes para a vida. Priscila ainda explica que, em contrapartida, há famílias que olham para educação dos filhos e se veem participantes, onde incentivam, participam ativamente, demonstram interesse no que as crianças têm a dizer sobre o dia na escola.

“Parece algo simples, mas a mudança no interesse faz com as crianças vejam o quanto aprender é bom. Na primeira reunião de pais sempre tento exemplificar o quanto essa mudança de comportamento é importante, que essa participação trará não apenas um ano letivo tranquilo para mim, mas para eles, pois as crianças serão meus alunos por um ano, mas filhos deles para sempre”, relata Priscila.

Durante a formação de professores, um dos autores estudado é José Carlos Libâneo, que defende que "a pedagogia familiar não deve estar desvinculada da pedagogia escolar", conta Daniele de Oliveira, professora. Isso significa que família e escola devem caminhar juntas quando o assunto é a formação de cidadãos.

Daniele ainda ressalta que existem limites entre um espaço e outro, entendendo que escola e família possuem funções diferentes: enquanto a escola deve se ocupar da formação em nível de saberes, relações de convivência e construção do conhecimento, a família contribui com valores, crenças, comportamentos, que influenciam de várias maneiras a trajetória escolar, especialmente no caso de crianças pequenas.

“Na formação, é defendido que a família e escola devem caminhar juntas, mas, muitas vezes, há uma compreensão equivocada de alguns pais acerca dos papéis da escola na educação de seus filhos.” A professora conta que, enquanto alguns pais entendem que a escola deve "fazer tudo" e até cobram e "vigiam" o trabalho dos professores, outros não dão importância ou não acompanham o que acontece dentro da sala.

“Por isso, nos cursos de licenciatura, além da didática, da história da educação, estudamos ética, psicologia, gestão, entre outras coisas: o professor precisa ser um profissional multifacetado e, por isso, merece todo apoio e reconhecimento”, explica Daniele. Mas ver que de alguma forma o profissional conseguiu contribuir para vida do aluno, é o que dá ainda mais força para eles continuarem. Ao final do ano, se despedir da turma e de suas famílias faz os professores ficarem com o coração apertado, mas realizados.

“Estar em sala e ter que encontrar uma maneira de lidar com famílias ausentes, com preconceito racial, religioso e até de ideologia de gênero e ainda dar conta das questões pedagógicas realmente não é fácil, mas é essencial. Eu acredito na educação, na capacidade de todos aprenderem e enquanto acreditar continuarei dentro da sala de aula”, finaliza Priscila.

#BomDiaRioDosCedros #DiárioDeRioDosCedros #RioDosCedros #DonCarlosLeal #NotíciasRioDosCedros #TurismoRioDosCedros #CulturaRioDosCedros #PapelDosProfessores

Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Rio dos Cedros Publicidade 1200x90
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp