12/06/2023 às 00h01min - Atualizada em 12/06/2023 às 00h01min
Você acha que o transporte ferroviário pode reduzir e muito o preço dos alimentos no país?
Para os grandes agricultores e comerciantes, a concentração de poder nesse transporte era suspeita, por isso, continuaram a apostar nos caminhões para levar a sua produção aos portos
Alexander Busch / Don Carlos Leal
UOL
Até 2018, dos planejados 4.500 quilômetros de trilhos, foram colocados 1.575 quilômetros, que pouco foram utilizados. - Imagem: Portos e Navios / Reprodução Planejada para interligar o Pará ao Rio Grande do Sul, a Ferrovia Norte-Sul está em construção há 36 anos. Sua história é uma parábola sobre o que deu errado no Brasil. A coluna do dia 13 de maio de 1987 publicada na "Folha de S. Paulo" soou como uma bomba. Nela, o jornalista Jânio de Freitas afirmava que os vencedores da licitação para a construção da ferrovia já eram conhecidos no dia anterior. Ele pôde provar isso com um simples truque: nos classificados, ele havia listado dias antes as 18 construtoras e suas rotas designadas num anúncio. A informação havia sido vazada para ele por um informante. Com a publicação disfarçada, Freitas queria evitar que o edital de concorrência fosse simplesmente interrompido, e o escândalo, abafado. O total da encomenda girava em torno de US$ 2,5 bilhões. Na época, tratava-se de uma das maiores licitações de projeto ferroviário do mundo. Com uma extensão de 4.500 quilômetros, a linha férrea deveria interligar as minas e as fazendas do interior brasileiro com os portos na Região Amazônica e a aglomeração industrial em torno de São Paulo, até o sul do país. A revelação de Freitas foi celebrada no Brasil como uma vitória da seleção. Os militares acabavam de deixar o poder, e a censura de anos havia sido abolida. O furo jornalístico de Freitas mostrou que a mídia não havia perdido a sua ferocidade como quarto poder após os anos de chumbo. Três décadas depois, pode-se dizer: a euforia mostrou-se prematura. O processo de licitação foi suspenso um ano depois. Ninguém foi condenado ou mesmo preso. A Ferrovia Norte-Sul ainda não está terminada. É uma parábola do que deu errado no Brasil e do porquê de esta terra tupiniquim continuar a ser -80 anos após o surgimento do epíteto cunhado por Stefan Zweig- "O país do futuro".
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