12/07/2022 às 14h47min - Atualizada em 12/07/2022 às 14h47min
Psicólogo afirma que as famílias perderam a capacidade de educar seus filhos
Rossandro Klinjey palestrou, sobre como enfrentar os desafios na educação de crianças e adolescentes
Margarida Azevedo
JC
Palestra no Shopping Rio Mar com o psicanalista Rossandro Klinjey sobre os desafios da família na educação dos filhos. - FOTO: Guga Matos / JC Imagem O psicólogo, escritor e especialista em desenvolvimento humano Rossandro Klinjey fala do papel da família, escola e professores. E dá dicas de como enfrentar os desafios na educação de crianças e adolescentes. Ele participou, semana passada, de uma palestra no Teatro RioMar. As pessoas perderam a capacidade de educar seus filhos. Não sabem dar limites, não conseguem mais passar valores, manter e aprofundar laços afetivos. Isso acarreta em grandes prejuízos. A criança não nasce pronta.
É um projeto que temos que estar o tempo inteiro investindo para que ela possa desenvolver seu pleno potencial. Quando pais chegam nas escolas, nos consultórios de pediatras e de psicólogos dizendo 'eu não sei mais o que fazer com essa essa criança' mostra uma geração de pais que se perdeu na tarefa belíssima, mas muito trabalhosa, de educar um ser humano. A construção das relações parentais se perdeu. A tarefa de educar emocional e moralmente um filho pode ter contribuição da escola, mas é sobretudo da família e ninguém pode terceirizar isso.
Os pais estão perdidos. Precisam admitir que se perderam nesse processo. Devem buscar construir competências para se tornar pais educadores. Pai e mãe não são aqueles que geram. Animais geram mas não educam. Um gato não educa um gato porque é uma resposta instintiva. Um ser humano não é só pra ser gerado, precisa ser educado. Educar implica a vida toda, estar conversando, dialogando. Hoje duas coisas a gente percebe. Uma é a preguiça. Os pais chegam em casa e dão o celular ao filho para que eles possam ver uma série, assistir ao jornal. A criança tem necessidade grande de contato, de olho no olho, de interação. Basta brincar 15 minutos que ela está satisfeita. Mas muitas vezes nem isso elas têm. Há preguiça ou incompetência dos pais. Quando junta os dois, o caos é bem anunciado.
Quando a família falha na tarefa de educar o filho joga para a escola essa criança deseducada. Ao não respeitar pai e mãe, a criança não aprende a dar relevância e importância à hierarquia. E não vai respeitar quem vem depois, que são os professores. Os docentes vivem com síndrome de burnout, depressão, crises de ansiedade. Hoje a escola percebeu que não adianta mais acusar os pais que eles estão perdidos ou apenas diagnosticar isso. Entendeu que precisa colaborar. Estamos vendo o preço da incapacidade de educar. E nesse momento da dor, suicídio infantil e juvenil que quase não existiam 20 anos atrás se tornarem uma coisa quase epidêmica globalmente. É quando a dor é muito alta que a gente percebe que tem algo muito errado e é preciso reverter esse quadro.
O socioemocional é muito bem vindo na escola. Mas tem que construir competências e ser aplicável. Ler ética não torna uma pessoa ética. Temos que fazer o letramento das emoções, sobretudo porque é uma geração de filhos cujos pais não tiveram isso. Hoje o socioemocional é mais importante do que 40 anos atrás. A gente quer equilibrar um modelo que não seja o da família quartel, como no passado. Nem muito menos uma família hotel, como hoje em dia, que ninguém tem compromisso com ninguém. Precisamos construir um lar em que as pessoas se relacionem, aprofundem esses relacionamentos e que os pais passem valores para construção de competências mínimas para essa crianças e adolescentes viverem um mundo que seja muito mais complexo do que era quando nós éramos crianças e adolescentes. Agora é muito mais sedutor e perigoso. Não tínhamos redes sociais, não tínhamos cyberbullying, tantas coisas que nos distraíam. Então a tarefa de educar hoje é muito mais complicada e exige mais ajuda que no passado.
A relação da família com a escola é fundamental. Muitas escolas não têm sabido. Pensam mais que é reunião de avisos no início do ano. É preciso que se coloque os pais como alunos da escola. Que a escola também forneça conteúdos para os pais e não somente para os filhos. Professores e pais não são concorrentes. Têm o mesmo objetivo, transformar seres humanos em pessoas melhores.
A criança valoriza o que é importante para a família. Se todo mundo se senta para assistir a um jogo ou uma série, se senta para beber e ninguém se senta para estudar, está claro na cabeça daquela criança que conhecimento não é importante naquela família. É uma obrigação a ser cumprida. E tudo que é feito com desprazer e sem propósito, eu não vejo sentido. Não consigo passar horas com meu filho vendo série ou desenho animado? Por que eu não posso estar juntos, mesmo que eu esteja fazendo meu trabalho, na hora da tarefa? É um momento na família, é um ritual, em que o conhecimento acontece. Como reagir diante da necessidade vai depender do perfil de cada filho. Agora ignorar a educação e deixar ele se virar não é uma resposta.
Engraçado porque antigamente as pessoas tinham 15 filhos e não havia dificuldade de dar limite. Hoje com dois filhos não conseguem. Talvez se absorveu equivocadamente um discurso de que dar limites era uma coisa que tolhia a criança. Talvez porque esses pais foram criados por pais muito abusivos e desenvolveram o sentimento de que com seus filhos seria diferente. As motivações são diferentes, vão variar em cada família. Mas uma coisa é certa: sem esses limites, a personalidade não se forma adequadamente e de maneira madura.
Às vezes, depende do contexto familiar. A criança precisa entender que o que ela faz vai ter repercussão. Se não tiver repercussão nenhuma, vai mudar o comportamento? Por exemplo, tirou nota baixa. É normal? Continua indo para o shopping? Nada mudou. Como vai mudar se percebe que tem um preço por aquele comportamento? O ideal é ter regras. É fundamental aprender desde cedo a construir e seguir regras e entender que nem tudo é como eu quero. Se eu não souber viver numa comunidade, vou ser uma pessoa tóxica, difícil, intolerante, isso tem comprometido muito as famílias.
A culpa não leva ninguém a nada. Paralisa a gente. Nos fornece uma sensação de incompetência profunda. A culpa só tem uma função. Gás de cozinha não tem cheiro. Mas se você entrar em casa com o gás vazando sem cheiro não seria um perigo? A indústria coloca um cheiro pra alertar você a ir lá e fechar o botijão. Então a culpa é para te alertar, para dizer olha, melhora isso. Não é pra ficar te torturando. O ideal é trocar a culpa por responsabilidade. O que está me dando culpa? Vamos tentar resolver. Aceita. Nunca você será um pai perfeito. Nós somos os pais possíveis, somos o marido, companheiro, esposa, possível. Se cria uma ideia de excepcionalidade, você nunca bate a meta e estará sempre se sentido devendo. Isso esgota qualquer pessoa.
Nas minhas palestras, nunca deixo de dizer que é importante dar limites, ter regras claras e manter um espaço para o sagrado nas famílias. As pessoas perderam espaço sagrado. Não tem Deus em muitas famílias. Não importa qual religião. As crianças quando ficam adolescentes vão se decepcionar com os pais, é natural, somos seres humanos, incoerentes e incongruentes. Nesse momento de vulnerabilidade vão procurar uma personalidade que não seja os pais, alguém para se inspirar, um jogador de futebol, um Tik Tok da vida. Se ela tiver a experiência do sagrado, ela vai migrar para um ser que é perene, não altera os humores, que tem o comportamento sempre o mesmo e é cheio do amor. Quando os pais não oferecem espaço para construção do sagrado deixam um gap. Não quero dizer que família que não acredita em Deus não vai ter jeito. Não é isso. Conheço famílias que não têm crença religiosa e que educam seus filhos perfeitamente. Mas ajuda muito essa experiência do sagrado na família. É algo fundamental a gente perceber como é importante ter esse quadro de valores. Tem pais que dizem que não querem forçar a barra, impor a seu filho. Mas você num impõe a escola? Ofereça a sua religião, a sua crença. Se seu filho mudar mais na frente, ao menos terá uma base. Até para saber o que vai mudar.
#BomDiaRioDosCedros
#DiárioDeRioDosCedros
#RioDosCedros
#DonCarlosLeal
#NotíciasRioDosCedros
#RioDosCedrosDebate
#TurismoRioDosCedros
#CulturaRioDosCedros
#EducaçãoPaisXProfessores