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23/06/2022 às 23h01min - Atualizada em 23/06/2022 às 23h01min

Professora é presa por associar tatuagem com escravidão

Uma aluna denunciou a docente por injúria racial em uma faculdade no ES

Álvaro Guaresqui
G1
A professora Juliana Zucculotto foi presa por injúria racial contra a aluna Carolina Bittencourd e responderá em liberdade após pagar fiança - Imagem: Reprodução / Facebook e Instagram
Uma estudante universitária disse ter sido vítima de ofensas raciais por parte de uma professora de faculdade particular em Vitória. O caso aconteceu nesta quarta-feira (22).  "Eu acabei de passar por um preconceito na sala de aula, pela professora Juliana Zuccolotto. Ela citou tatuagens e começou a falar da origem dela, que veio do presidiário, da prisão [...] ela pegou e falou assim que era muito feio tatuagem e que mais feio ainda era quem tinha pele negra e que parecia pele encardida, quem tinha pele negra e quem tinha tatuagem", disse a jovem no vídeo.

Carolina Bittencourt é estudante do curso de design de moda da Faesa. De acordo com os vídeos que publicou na internet, as ofensas teriam partido da professora Juliana Zucolotto, de 61 anos. Após o episódio, a aluna deixou a sala de aula e chamou a Polícia Militar. A PM informou que foi acionada para verificar uma possível ocorrência de racismo e que, no local, a aluna relatou aos militares que, durante uma aula, a professora teria solicitado que quem tivesse tatuagem levantasse a mão.

Ainda segundo a PM, a aluna disse que levantou a mão e, a partir de então, a professora teria citado as características físicas da estudante e dito que "tatuagem em pele negra parecia encardido" e que "jamais faria tatuagem nela, pois as marcas seriam coisas de escravos e ela não era escrava". Os policiais abordaram a professora, que teria dito que somente fez "um comentário acerca da história do uso de tatuagem" e que fora "mal interpretada" pela aluna. De acordo com a PM, professora e aluna foram encaminhadas para a Delegacia Regional de Vitória. Segundo a Polícia Civil, a professora foi autuada em flagrante por injúria racial. Como a penas não ultrapassa quatro anos de detenção, a autoridade policial arbitrou uma fiança.

A professora pagou a fiança e foi liberada para responder em liberdade. O valor da fiança não foi revelado. A reportagem procurou a aluna. Por telefone, um homem que se identificou como marido da jovem disse que ela já constituiu um advogado, mas que só irá se pronunciar em momento oportuno. Ela atendeu uma das ligações e disse que se posicionaria em outro momento. Desde então, não respondeu mais às tentativas de contato.

Em nota, a Faesa disse que iniciou uma apuração dos fatos assim que tomou conhecimento do ocorrido e que abriu um processo administrativo para análise do caso e adoção das providências necessárias. "O Centro Universitário destaca que repudia todo e qualquer ato ou manifestação discriminatória e preconceituosa. Qualquer manifestação contrária a esse posicionamento é ato individual, isolado, e não condiz com a política da instituição", afirmou a instituição. Questionado sobre a permanência da professora nas funções, o centro universitário declarou que a professora seguirá no cargo durante as apurações.

Racismo e injúria racial
O crime de racismo atinge um grupo de pessoas – por exemplo, todas as pessoas de uma determinada raça. Já a injúria racial é quando a honra de uma pessoa específica é ofendida por conta de raça, cor, etnia, religião ou origem. Se o alvo do crime for todas as pessoas negras, por exemplo, ele se enquadra como racismo; já se a ofensa for direcionada a uma pessoa, e não à raça como um todo, é uma injúria racial. Apesar das diferentes bases legais, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por 8 votos a 1, que o crime de injúria racial pode ser equiparado ao de racismo e considerado imprescritível, ou seja, passível de punição a qualquer tempo.
 

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