Em 2014, psicólogos de Uberlândia (MG) criaram o Janeiro Branco para representar a causa da saúde mental. Desde então, a campanha entrou para o calendário de saúde e é uma forma de levar a sociedade a refletir sobre a importância do autoconhecimento e de tratar transtornos como a depressão e a ansiedade. O mês foi escolhido por ser uma época de recomeços para muitas pessoas, e a cor remete a uma folha em branco que pode ser preenchida com a construção de boas histórias pessoais. A analista de Treinamento e Desenvolvimento (T&D) da Geap Autogestão em Saúde, Maria Braz, é psicóloga e especialista em felicidade. Por meio da psicologia positiva e formação de facilitadores de felicidade, Maria traz informações sobre como ser feliz e cuidar da saúde mental.
O que é felicidade?
“A felicidade enquanto ciência está alicerçada em quatro pilares: a neurociência, a economia, a filosofia e a psicologia positiva. Quando falamos em felicidade, temos que nos lembrar de um ponto muito importante. Não há como falar em felicidade para quem está abaixo da linha da pobreza. A felicidade é estar feliz, não é estar em busca. É uma tomada de decisão consciente. Não temos como exigir que alguém que está abaixo da linha da pobreza que ele seja feliz. Quais são as perspectivas que ele tem, se no dia a dia ele não tem nem como se alimentar corretamente? Por isso, a economia é um dos pilares importantes quando se fala da felicidade enquanto consciência.”
Por ser uma tomada de decisão consciente, o ser humano escolhe ser feliz?
“Ser feliz não significa que você tem que ser uma líder de torcida, que tenha que estar sorrindo o tempo todo e, de alguma forma, estar agradando a Deus e a todo mundo. A decisão consciente que você toma para ser feliz, você tem que entender que você tem que se esforçar. Terão dias ruins? Sim. Um exemplo: estamos passando por uma pandemia, algo que a nossa geração nunca vivenciou, não temos isso na nossa memória, é tudo novo. Tivemos perdas reais e significativas, até a nossa mobilização foi limitada. Muitos tiveram que ficar em casa, perderam trabalho, perderam entes queridos, e tudo isso não tira a sua felicidade, a partir do momento que você entende que a felicidade é um processo, você é feliz e não está feliz. Muitas vezes você pode estar alegre e contente, não é a mesma coisa que ser feliz. Ser feliz é saber que dias ruins existirão, mas aprender com todos esses dias, utilizando-se da resiliência, de ter um propósito de vida, e ter seus valores e objetivos, entender que esse momento vai passar, e saber o aprendizado que você tira dessa situação para chegar do outro lado”.
Existe uma fórmula mágica para ser feliz?
“Não, nós não temos uma fórmula para a felicidade. Alguns estudos até tempos atrás traziam uma fórmula que era: 50-40-10, mas a própria criadora da teoria esclareceu que foi uma má interpretação. Não tem como falar que a genética vai ser um complemento às questões sociais para ser essa fórmula da felicidade. Ela pode ser somada, pode ser sobreposta, então não existe uma fórmula. Até porque a forma que eu vejo o mundo é diferente de todas as outras pessoas. Como eu daria uma fórmula de bolo para que todo mundo fosse feliz? Eu tenho meus valores e as outras pessoas têm os delas. Com isso, há um direcionamento daquilo que me proporciona felicidade. A forma que eu manifesto também é diferente de cada um. Muitas vezes a gente vê uma pessoa, e pensa que ela não sorri muito, não traz muitas informações, e tira a conclusão de que ela é infeliz. Tire da bagagem qualquer julgamento, tire a máscara, a lente de imaginar que felicidade são sempre pessoas sorrindo”.
Maria, você é especialista em psicologia positiva. O que é isso?
“A psicologia positiva não é uma dissidência da psicologia tradicional. Ela já existe desde a década de 1950, e até antes, porque ela também bebe no berço da filosofia. Maslov foi o primeiro a falar sobre a psicologia positiva, ele a chamava de psicologia humanista. Somente no início do ano 2000 que o Martin Seligman começou a falar sobre psicologia, e foi quando o nome ganhou força. Muitas pessoas acreditam que seja algo novo, mas não é algo tão recente. Ela não é uma dissidência da psicologia tradicional, e entendo que elas caminhem de mãos dadas. Quando falamos de alguns pontos de doenças ou transtornos, como algumas pessoas gostam de chamar, a psicologia tradicional é fundamental, mas a positiva também dá esse suporte. Vamos imaginar um grande salão de festas: nesse grande salão, temos todas as correntes de psicologia, e uma antessala que é muito especial, nós podemos estar lá com a psicologia positiva, ou seja, ela dá um suporte muito na prevenção, na forma que prevenimos até alguns transtornos mentais. E quando já tem a psicologia tradicional, como podemos dar esse suporte? Por meio da autocompaixão, da resiliência, da definição de proposito e de tudo aquilo que está dentro da psicologia positiva”.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que o Brasil é o país mais ansioso do mundo, e está em quinto no ranking da depressão. O que podemos fazer para mudar esse cenário?
“Primeiro ponto: identificou? Procure ajuda especializada. Muito se tem de estigma sobre transtornos mentais. Quando a gente fala de janeiro branco e saúde mental, é importante ter muito claro: é um mês no qual reforçamos a saúde mental, mas a atenção tem que ser dada de janeiro a dezembro, de dezembro a janeiro e sucessivamente. A ansiedade e a depressão não se manifestam apenas no mês de janeiro, mas é o mês que foi escalado para representar essa questão da saúde mental. O que fazer com essas questões para minimizarmos essas dores e transtornos? Como saber que estamos saindo de um momento que estamos sãos para um momento de não saúde mental? É uma linha tênue, é invisível, e qualquer pessoa está sujeita a cruzar essa linha”.
Saúde mental é um assunto muito sério e deve ser tratado com profissionais da área. Ao perceber sinais de depressão e ansiedade, é recomendável procurar a ajuda de um psicólogo. Emoções e sentimentos também merecem atenção.