Jovens e o desafio silencioso: diagnósticos de câncer crescem 284% no Brasil
Tumores em pessoas de até 50 anos avançam rapidamente; especialistas alertam para falhas no rastreamento e desigualdade no acesso ao tratamento
Com terapias modernas, câncer caminha para se tornar doença crônica controlável. - Foto: AdobeStock / Reprodução
O número de diagnósticos de câncer em adultos com até 50 anos aumentou quase quatro vezes no Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2013 e 2024, passando de 45,5 mil para 174,9 mil casos. O crescimento acompanha uma tendência mundial e levanta preocupações sobre o preparo do sistema de saúde para lidar com esse novo perfil de pacientes.
Entre os tipos mais frequentes estão os tumores de mama, colorretal e fígado. O câncer de mama lidera os registros, com mais de 22 mil novos casos anuais entre mulheres nessa faixa etária, um aumento de 45% na última década.
A história por trás dos números
Jaqueline Chagas, operadora de caixa, descobriu o diagnóstico após anos ouvindo que o nódulo em seu seio era benigno. “Dava para sentir o nódulo no abraço”, relembra. Aos 35 anos, ela fazia parte de uma geração que não se via no grupo de risco. “A médica olhou para a colega e disse: ‘Mais uma jovem com câncer de mama, essa é a terceira hoje’. Foi assim que descobri”, conta.
O tratamento foi intenso: oito sessões de quimioterapia, mastectomia radical e complicações graves como neutropenia e sepse. “Disseram ao meu marido que eu tinha poucos dias de vida. Lembro de pensar que não veria mais minha casa”, relata.
Falta de dados e subnotificação
Apesar da alta nos registros públicos, especialistas alertam que os números podem ser ainda maiores. Cerca de 75% da população é atendida pelo SUS, mas os dados da saúde suplementar — que cobre os outros 25% — não são contabilizados oficialmente. Uma decisão judicial de 2010 impede o uso da Classificação Internacional de Doenças (CID) nas bases das operadoras privadas, dificultando a mensuração da incidência.
“O país subestima a real dimensão do problema”, afirma Stephen Stefani, oncologista da Americas Health Foundation. “Toda política de saúde depende de dados, e hoje eles são frágeis.”
Tipos de câncer mais incidentes entre adultos de até 50 anos entre 2013 e 2024: fonte: DataSUS / Painel Oncologia BR – faixa etária de 18 a 50 anos: Mama: mais prevalente entre mulheres; aumento expressivo na última década; Colo do útero: associado à baixa adesão à prevenção e ao rastreamento; Colorretal: em crescimento; ligado ao estilo de vida e a alimentação; Estômago: mantém incidência alta em regiões com dieta rica em sal e ultraprocessados;
Fígado: relacionado ao consumo de álcool, hepatites e obesidade.
Estilo de vida e rastreamento tardio
O câncer colorretal, por exemplo, teve aumento de 160% entre 2013 e 2024, passando de 1.947 para 5.064 diagnósticos. “Mais de 90% dos casos têm relação com alimentação, sedentarismo e excesso de peso”, explica Samuel Aguiar, do A.C.Camargo Cancer Center.
Segundo ele, a baixa realização de exames como a colonoscopia antes dos 50 anos contribui para diagnósticos tardios. “Muitos sintomas são confundidos com alterações intestinais leves. Falta cultura de prevenção nessa faixa etária.”
O novo perfil dos pacientes
Antes mais comum em idosos, o câncer agora afeta pessoas jovens, ativas e em plena fase produtiva. Fatores como alimentação rápida, noites mal dormidas e sobrepeso são apontados como gatilhos. “A obesidade funciona como um órgão inflamatório, desregulando hormônios e favorecendo mutações celulares”, explica Stefani.
Sistema ainda não acompanha a realidade
Apesar de avanços como a ampliação da mamografia a partir dos 40 anos no SUS, especialistas afirmam que o sistema ainda não está preparado para o novo perfil da doença. “A demora entre diagnóstico e início do tratamento segue um desafio”, diz Isabella Drummond, oncologista membro das sociedades Americana e Europeia de Oncologia.
Ela destaca que a oncologia de precisão — baseada em testes genéticos e terapias-alvo — avança no setor privado, mas permanece inacessível à maioria dos pacientes da rede pública.
Rede de apoio e acolhimento
Após se recuperar, Jaqueline criou o grupo Unidas, que reúne mais de 500 mulheres com câncer de mama. “Tem gente que espera seis meses por um exame. Outras não conseguem voltar ao trabalho por falta de apoio psicológico. A gente tenta se ajudar com informação e acolhimento”, conta.
Tendência global
O aumento de casos em jovens não é exclusivo do Brasil. Estudo publicado na revista Nature Medicine aponta crescimento em todos os continentes, especialmente em países urbanizados. Estilo de vida moderno, alterações na microbiota intestinal e exposição a poluentes estão entre os fatores mais citados.
Sinais de atenção Embora nem todo tumor apresente sintomas iniciais, especialistas recomendam atenção aos seguintes sinais: Perda de peso sem causa aparente; Sangue nas fezes ou urina; Nódulos persistentes; Alterações no hábito intestinal; Cansaço extremo;
Sangramentos fora do padrão.
“O diagnóstico precoce pode garantir mais de 90% de chance de cura”, reforça Isabella. “Mas para isso, o paciente precisa ser ouvido e ter acesso rápido ao exame certo.”
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