Anualmente, as empresas abrem cerca de 1 milhão de vagas de estágio no Brasil, de acordo com dados da Associação Brasileira de Estágios (Abres). Destas, 740 mil são destinadas a estudantes do ensino superior e 260 mil para os de ensino médio e técnico. Embora os números pareçam significativos, eles perdem expressividade diante da procura dos jovens ainda em formação por uma experiência prática no mercado de trabalho. Segundo os indicadores do Ministério da Educação, o país conta com 8,6 milhões de alunos matriculados na universidade e outros 7,5 milhões em cursos médios e de educação profissional.
Uma conta simples revela que para cada vaga de estágio disponível há, em média, 16 potenciais candidatos. Na vida real, essa relação costuma ser muito mais desafiadora, notadamente quando envolve processos seletivos lançados por grandes empresas nacionais e multinacionais com sede no Brasil. Há casos em que uma oportunidade é disputada por milhares de interessados. A concorrência tem explicação: além de servir de porta de entrada para o mundo profissional, os estágios podem evoluir para a primeira contratação, dependendo do desempenho de quem está sendo preparado.
Devido à importância do estágio, várias instituições de ensino superior criaram programas voltados à preparação de seus alunos para participar dos processos seletivos. A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), por exemplo, criou o PUCRS Carreiras, que promove a aproximação entre a instituição e mundo do trabalho. O órgão, que conta com uma equipe formada por profissionais especializados nas áreas de carreira, recrutamento e seleção, oferece uma série de atividades aos alunos voltadas ao aperfeiçoamento das competências requeridas pelo mercado de trabalho.
O esforço da universidade vem sendo recompensando. Em 2020, ano atípico e de forte retração do emprego, 5.066 alunos da instituição obtiveram vagas de estágio. A Faculdades de Campinas (Facamp), que mantém oito cursos de graduação em período integral, também mantém uma ampla estrutura de apoio aos alunos em condições de estagiar, denominado Cento de Carreiras. Os estudantes recebem orientações sobre como preparar currículos adequados, como se comportar em uma entrevista e como lidar com seus pontos positivos ou com os que ainda precisam ser aperfeiçoados.
O resultado da abordagem tem sido altamente positivo. Nos processos seletivos encerrados entre o final do ano passado e o início de 2021, um grupo formado por 369 estudantes da Facamp obteve vaga de estágio em destacadas empresas como Ambev, International Paper, Siemens, Grupo Ultra, Google, Adidas, entre outras. Os admitidos representam 90% dos que pleitearam uma posição nesses certames. “Foi uma evidente demonstração de resiliência por parte dos nossos estudantes, uma das competências mais valorizadas pelo mercado de trabalho, principalmente neste período atípico marcado pelas restrições impostas pela pandemia”, analisa o diretor Acadêmico da Faculdade, professor Rodrigo Sabbatini.
A performance dos estudantes, continua o diretor Acadêmico, está intimamente ligada ao modelo pedagógico adotado pela Facamp. A instituição tem o compromisso de oferecer aos jovens uma formação ampla, que estimula o pensamento crítico e todas as competências pessoais de um profissional contemporâneo. “Nosso propósito vai além de ensinar apenas os mais modernos conceitos teóricos; nós formamos um profissional capaz de resolver problemas complexos de forma crítica, criativa e inovadora”, detalha Sabbatini.
Primeira experiência
Graças a esse tipo de treinamento, os estudantes partem para a disputa de uma vaga de estágio com muito mais confiança, como conta Rubia Monteiro dos Santos, aluna do quinto ano do curso de Engenharia Mecânica da Facamp. Ela foi recém-admitida no programa de estágio da International Paper, multinacional instalada em Mogi Guaçu (SP), que produz papéis, embalagens industriais e fibras de celulose globais, utilizadas na fabricação de fraldas e absorventes íntimos.
Rubia concorreu à posição com cerca de 10 mil outros estudantes de todo o Brasil. “Penso que a minha aprovação se deve às habilidades e competências que a Facamp me ajudou a desenvolver. Um ponto importante foram as recomendações sobre como me comportar em uma entrevista, ainda mais no formato on-line, situação até então desconhecida para mim”, explica.
Durante as etapas do processo seletivo, Rubia diz ter colocado em prática várias dicas dadas pelos professores. “Procurei me preparar adequadamente, ter atenção às questões apresentadas, refletir sobre minhas habilidades e competências e ser absolutamente sincera nas respostas. Tudo isso sem dúvida me ajudou a ter um bom desempenho e a conquistar a vaga”, entende.
Os programas de estágio não são importantes somente para os estudantes em formação, como lembra a psicóloga e cofundadora da Super Estágios, agência especializada em administrar estágios, Emily Sabaini. “O estagiário de hoje pode ser o profissional brilhante de amanhã. A maioria dos jovens é extremamente proativa e traz diversas inovações para a empresa. Ter um programa de estágios não é somente uma redução de custos, mas também um investimento na evolução do negócio”, observa, em comentário publicado no site da empresa.