02/11/2024 às 11h35min - Atualizada em 04/11/2024 às 16h00min
Vício em internet já é considerado epidemia mundial
Alerta de especialistas divulgado no The Lancet Psychiatry chama a atenção para o problema. Algumas formas de dependência são consideradas transtorno mental
Anna Marina / Don Carlos Leal
ESTADO DE MINAS
Estudo aponta que adolescentes americanos passam em média cinco horas por dia concentrados nas mídias sociais. Imagem: Pixabay / reprodução Bem fiz eu que joguei o celular fora no dia em que meu marido morreu. Já falei centenas de vezes aqui que não tenho celular, mas as pessoas não param de pedir meu WhatsApp. Quando falo que não tenho, devem me achar jurássica. Posso ter 90 anos, mas quero preservar os momentos de sossego, sem ficar dependente de celular. E um estudo internacional comprova o que digo.
Enquanto a inteligência artificial (IA) fortalece aplicativos e algoritmos viciantes, especialistas em saúde alertam para uma crise crescente: o vício em internet afeta quase metade dos usuários de smartphones no mundo todo. Crianças e adolescentes enfrentam os riscos mais significativos, de acordo com o artigo de especialistas divulgado no respeitado The Lancet Psychiatry.
A publicação de outubro, intitulada The Lancet Psychiatry Commission on Global Action Against Problematic Usage of the Internet (PUI), oferece recomendações baseadas em evidências para abordar o que muitos já consideram uma epidemia mundial: o vício em internet.
Nos Estados Unidos, cerca de 95% das crianças e adolescentes entre 13 e 17 anos usam mídias sociais – um terço deles faz isso “quase constantemente”. Estudo de 2023 descobriu que adolescentes passam em média cinco horas por dia nas mídias sociais. Ainda não se sabe qual será o impacto disso sobre a juventude.
Algumas formas de dependência da internet já são classificadas como transtorno mental. A comissão identificou vários fatores que agravam o problema, como “o fácil acesso de menores à internet; o uso de design viciante e algoritmos manipuladores por empresas de tecnologia para encorajar e direcionar a atenção online; o poder cada vez maior da inteligência artificial (IA) para fortalecer tais designs e algoritmos”.
Embora o reconhecimento clínico do problema seja um passo, ainda é necessário muito trabalho em vários setores, incluindo serviços clínicos, iniciativas de saúde pública e formulação de políticas. Também é preciso analisar e regulamentar os jogos de azar, com atenção especial a várias formas de conteúdo e atividades online viciantes.
O fluxo personalizado “Para você” do TikTok, criado por IA para cada usuário, foi identificado como um dos principais contribuintes para o vício na plataforma.
Porém, as mídias sociais são apenas parte do problema, e a comissão Lancet alertou para a necessidade de incluir formas online de transtorno de jogo, “que são classificados primeiro como transtornos por causa de comportamentos viciantes e depois como transtornos de controle de impulsos”.
A Classificação Internacional de Doenças (CID-11) considera o jogo problemático de videogame como transtorno mental. Transtornos relacionados a apostas online, jogos e comportamento sexual compulsivo ganharam reconhecimento, refletindo a natureza viciante dessas tecnologias.
O objetivo final é criar uma estrutura que oriente o desenvolvimento de cuidados baseados em evidências, com intervenções preventivas e terapêuticas, ao mesmo tempo em que se equilibram as liberdades civis com a prevenção de danos.
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