17/05/2024 às 13h12min - Atualizada em 17/05/2024 às 13h12min
Péricles Prade, o “Doutor Fantástico”, nos fará muita falta
Filho de Rio dos Cedros tinha a dimensão espetacular dos heróis e anti-heróis do particular universo fantástico que o próprio levou para os seus livros
Marcos Espíndola / Don Carlos Leal
ND+
Péricles Prade era ex-juiz federal e foi autor de mais de 70 obras de poesia, ficção, Direito e história. - Foto: Reprodução / Prade&Prade É a segunda perda dolorida no campo das nossas artes e da cultura em menos de seis meses. A primeira foi a do também poeta, também crítico e editor Marco Vasques, desaparecido em dezembro passado. Por sinal, os dois eram/são amigos, confidentes, comparsas tal qual “pai e filho”. O Doutor Fantástico partiu. Péricles Prade, o jurista, o escritor, o poeta, o contista, o historiador, o crítico literário e das artes visuais, um batalhador da nossa cultura. Péricles tinha a dimensão espetacular dos heróis e anti-heróis do particular universo fantástico que o próprio levou para os seus livros e o torno uma referência no estilo no Brasil.
Conheci pessoalmente Péricles há duas décadas, quando ele estava à frente do Conselho Estadual de Cultura (CEC) e depois na Academia Catarinense de Letras (ACL). Foi um leão na defesa da valorização da cultura do nosso Estado.
Dali em diante passamos a conviver com maior proximidade. Tive a honra de trabalhar com ele na divulgação do seu livro “Espelho Gêmeos: Pequeno tratado de perversões” (Ed. Iluminuras, 2016). Até hoje eu guardo com muito carinho o único exemplar que me restou desta impressionante obra do fantástico erótico contemporâneo.
Só no campo da escrita foram mais de 70 livros publicados e isso ainda é pouco para mensurar a sua contribuição. “O Péricles nos deixa uma obra respeitável, cujo tamanho e importância talvez ainda não tenham sido adequadamente avaliados. Para mim, trata-se também de uma grande perda pessoal, pois tínhamos uma grande afinidade intelectual, além da amizade que nos unia”, disse o escritor e colega de Péricles na ACL, Amílcar Neves, durante as nossas trocas de mensagens ainda no calor da surpreendente notícia do falecimento.
“Uma lástima, na verdade, que vem a se juntar à perda do Marco [Vasques], com quem, ainda hoje, pressinto que vou esbarrar em alguma esquina aqui do bairro”, completa Neves. Que Péricles e Marco estejam agora sentados à mesa se divertindo entre generosas garrafas de vinho e o regozijo em frente a tela que exibe a fantástica aventura sobre as suas inesquecíveis existências neste plano.
“Relâmpagos
amáveis
seduzem as flores
sob as árvores de maio.
Ouço
violinos no abismo
onde geme a leprosa.
Da face enlutada
extraio
a seiva da melancolia.
Feliz,
durmo na redoma
em posição de gênio servente.”
(Poema “Sob as árvores de maio”, Péricles Prade”)
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