'Melzinho do amor': Venda de substância não autorizada pela Anvisa é flagrada em SC - Foto: Reprodução
Tema de músicas e vendido com facilidade pela internet, o "Melzinho do Amor" entrou no radar do Procon e da Vigilância Sanitária de Santa Catarina. O produto, que é anunciado como estimulante sexual e que teria substâncias naturais na composição, tem a sua comercialização proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas é vendido livremente no estado.
Um vídeo flagrou a venda irregular de substância no Centro de Florianópolis (veja acima). Segundo a reportagem exibida no Jornal do Almoço, nesta quinta-feira (17), a NSC TV entrou em contato com um vendedor da substância na região e adquiriu o produto. Com o conhecimento de autoridades de fiscalização, foram realizadas duas compras do produto. A investigação durou cerca de um mês. Durante a transação, o vendedor afirmou que fazia a revenda do produto e que comprava lotes com uma pessoa no bairro Barreiros, bairro de São José, na mesma região. Segundo ele, é possível comprar três caixas do estimulante por até R$ 200.
Confira um trecho da conversa: Produtor: "Ninguém nunca passou mal? nenhuma restrição? Tem uns camaradas meio que são cardíacos” Vendedor: "Aí não pode tomar” Produtor: “Ele é igual o viagra?” Vendedor: “É, mas não é tão forte assim. Viagra é forte”
Buscas pelo produto sem autorização da Anvisa Em Santa Catarina, o termo "Melzinho do Amor" teve o registro de aumento de procuras no maior site de buscas da internet no início de março. Nos três últimos meses, as buscas pelo termo tiveram uma alta repentina e cidades como Camboriú, São José, Lages, Itapema e Itajaí lideram as pesquisas na internet. No entanto, para a Anvisa, o produto não se enquadra como alimento registrado ou isento de registro. Por isso, produção, venda, publicidade e comercialização estão proibidas desde maio no país.
Compra pela internet Além da venda nas ruas do Centro de Florianópolis, a reportagem também mostrou a facilidade em conseguir adquirir o produto pela internet. Os anúncios estão espalhados em sites populares de entrega e, além da descrição, trazem recomendações sobre a forma de consumo. Em um dos casos, o anúncio diz que não é indicado para pessoas com insuficiência renal ou problemas no coração 'hipertensão crônica - isquemia' além de crianças e mulheres grávidas".
Crime Esse tipo de comercialização está proibido pela Anvisa. Segundo o advogado especialista em legislação do órgão Carlos Eduardo Raulino, os revendedores também têm responsabilidade pela venda ilegal e podem sofrer penalizações. "Os revendedores são obrigados a requerer e solicitar daquele distribuidor a legalidade e o registro daquele medicamento que ele está se propondo vender. Ele não pode alegar que é leigo, que não tinha conhecimento porque é dever dele ter e exigir do distribuidor que está sendo permitida a revenda em território nacional", afirmou.
A venda ilegal e fácil da substância preocupa também as autoridades sanitárias de Santa Catarina. A Diretora da Vigilância Sanitária de Santa Catarina, Lucélia Scaramussa Ribas Kryckyj, pede que as pessoas não consumam o produto.
"Desconhecemos toda a sua composição e também os fabricantes desses produtos são totalmente desconhecidos, o que dificulta e muito a fiscalização. Orientamos que não se consuma nenhum produto com qualquer tipo de indicação sem que o mesmo não tenha registro", afirma.
Substâncias desconhecidas A reportagem da NSC pediu para que o produto fosse analisado pelo Laboratório Central de Saúde Pública. Segundo o diretor do Procon de Santa Catarina, Tiago Silva, que acompanha o caso, foram encontrados os grãos de pólen e elementos histológicos de canela característicos da doença de mel e de canela.
Também foram encontrados cristais e outras partículas não identificadas. O Lacen diz que não possui metodologia implantada para avaliação da composição química do produto. Segundo Silva, uma medida cautelar pedindo para que sites façam a retirada imediata desse produto já foi feita. O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) também acompanha o caso.
Composição Nos anúncios, a composição do "Melzinho do Amor" parece simples, segundo os vendedores. Mel, caviar e canela dão forma à substância gelatinosa para ser consumida por via oral e acompanhada por grande quantidade de água. No entanto, nenhuma das descrições é comprovada ou recomendada pela Anvisa.
De acordo com a vice-presidente do Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina, Vânia Floriani Noldin, a bula é uma importante aliada para saber o que o consumidor experimenta. No entanto, muitos rótulos estão escritos em árabe.
A especialista destaca também a importância de testes em duas vertentes. Uma para avaliar a eficácia e outra, para controle de qualidade. "Sempre que é liberado um lote de produção na indústria, ela tem que fazer um controle de qualidade e registrar isso, documentar e estar sempre à disposição para população, para os órgãos de vigilância para fiscalização, a fim de garantir que realmente esse medicamento registrado no Ministério da Saúde vai ser seguro, eficaz" , afirma.
Riscos Segundo a professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do Grupo de Estudo de Produtos Naturais e Sintéticos Maique Biavatti, muitos produtos vendidos como naturais podem não funcionar. A especialista alerta também para os riscos de fraude no mercado e consequências para a saúde.
Ainda de acordo com a professora, os produtos como o "Melzinho do Amor", que prometem maior desempenho sexual podem conter uma substância chamada sidenafil, com risco maior, pois as quantidades são desconhecidas. "A pessoa, às vezes, tem alguma coisa sexualmente mal resolvida ou alguma baixa autoestima e oferecem pra ela essa mistura de coisas nada a ver. O caviar e canela mais que lembram a virilidade, a potência. Ela já vai esperar que aquele efeito vai ser causado nela, né? O placebo é isso, é a expectativa da cura, que é muito comum no ser humano", explica.
Um jovem de 25 anos que tomou a substância junto com a companheira contou que comprou o "Melzinho do Amor" há cerca de um mês após assistir vídeos na internet e ouvir amigos comentando sobre o assunto. Morador da Grande Florianópolis, ele adquiriu o produto por R$ 30 em um aplicativo de entrega e disse que não sabia da não regulamentação do produto no país e que desconhecia os perigos.
Segundo o jovem, a embalagem do produto só continha o nome da marca e não dizia quais substâncias haviam dentro. Ele consumiu o "Melzinho do Amor" junto com bebidas alcoólicas e os efeitos duraram dois dias.
Plataformas de compra A reportagem questionou algumas das plataformas de e-commerce em que o "Melzinho do Amor" vem sendo comercializado.
O Mercado Livre disse repudiar o uso indevido do medicamento. O site retirou os anúncios dos produtos do ar. O Facebook também retirou os anúncios da plataforma. O Ifood se manifestou dizendo que atua como intermediário e que não autoriza a venda de produtos proibidos pela Anvisa. O Instagram informou que investiga as contas denunciadas pela reportagem.
Em nota, a OLX informou que a empresa não faz a intermediação ou participa de qualquer forma das transações que são feitas entre os usuários. A reportagem entrou em contato com as plataformas Enjoei e Americanas, mas não tivemos retorno.