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08/04/2021 às 09h25min - Atualizada em 08/04/2021 às 09h25min

Dr. Jairinho e mãe de Henry Borel de 4 anos são presos

De acordo com as investigações, Jairinho agredia a criança e a mãe sabia

https://solidarionoticias.com/2021/04/08/caso-henry-policia-civil-prende-dr-jairinho-e-a-mae-monique-medeiros/
Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (Solidariedade) é preso em Bangu, na Zona Oeste do Rio Foto: ANTONIO SCORZA / Reprodução / TV Globo
A polícia do Rio prendeu na manhã desta quinta-feira (8) o vereador Dr. Jairinho e Monique Medeiros, mãe do menino Henry Borel, que morreu no último dia 8 de março. A prisão é temporária e a acusação é de que os dois estariam tentando atrapalhar as investigações. Investigadores da 16ª DP (Barra da Tijuca) afirmam que Henry foi assassinado no dia 8 de março com emprego de tortura e sem chance de defesa. O casal foi preso por atrapalhar as investigações e por ameaçar testemunhas para combinar versões. Os mandados foram expedidos na quarta-feira (7.4) pelo 2º Tribunal do Júri da Capital. A prisão é temporária, por 30 dias. Até então, eles negavam qualquer envolvimento com a morte de Henry e afirmavam que tinha sido um acidente doméstico. Jairinho e Monique não deram declarações ao serem presos, em Bangu, nem quando chegaram à 16ª DP.

Policiais descobriram que, antes do fim de semana da morte, Dr. Jairinho agredira o menino com chutes, rasteiras e golpes na cabeça. Segundo a polícia, Monique sabia disso pelo menos desde fevereiro. O vereador teria praticado pelo menos uma sessão de tortura contra o enteado em fevereiro. Desde o dia 8 de março, os policiais ouviram pelo menos 18 testemunhas e reuniram provas técnicas que descartaram a hipótese de acidente.

Levantada pela mãe da criança no termo de declaração na delegacia. Além de dois laudos periciais, de necropsia e de local (realizado nas três visitas ao apartamento 203 do bloco 1 do Condomínio Majestic, no Cidade Jardim, na Barra da Tijuca), dados extraídos dos telefones celulares do casal, apreendidos no último dia 26, formaram um conjunto de elementos para embasar o pedido do delegado Henrique Damasceno.

Casas de familiares
A primeira importante prova que chegou às mãos dos investigadores, foi um laudo assinado pelo médico-legista Leonardo Huber Tauil, feito após duas autópsias realizadas no cadáver da criança, nos dias 8 e 9 de março. No documento, o perito do Instituto Médico-Legal (IML) descreve que a criança sofreu “múltiplos hematomas no abdômen e nos membros superiores”, “infiltração hemorrágica” na parte frontal, lateral e posterior da cabeça, apontou “grande quantidade de sangue no abdômen”, “contusão no rim” e “trauma com contusão pulmonar”.

A causa da morte foi por “hemorragia interna e laceração hepática [danos no fígado] causada por uma ação contundente [violenta]”. Os investigadores passaram a acompanhar os passos do casal há dois dias. Na noite de quarta-feira, descobriram que eles não dormiriam nas casas de seus familiares em Bangu, na zona oeste do Rio, como vinha acontecendo desde a morte do menino, quando deixaram o condomínio na Barra da Tijuca. O Dr. Jairinho saiu da casa do pai, o ex-deputado estadual Jairo dos Santos, o coronel Jairo, com um mochila e buscou a mulher na casa dos pais dela. Depois seguiram para uma outra casa na mesma região, onde passaram a noite.

Primogênito de um casal de dona de casa e coronel da Polícia Militar e deputado estadual, Jairo Souza Santos Júnior cresceu nas ruas de Bangu, onde sua família mantém a casa de dois andares com piscina e churrasqueira e estabeleceu seu reduto político. Em 2004, aos 27 anos, herdando os passos eleitorais do pai, participou da primeira campanha e foi o vereador mais votado do Partido Social Cristão (PSC). O ano foi o mesmo da sua formatura como médico, na unidade da Unigranrio de Duque de Caxias. O aluno, com CR 7,4, tem fama no campus de ser um homem inteligente, bem articulado e gentil — a mesma que lhe fez continuar na Câmara por outros três mandados consecutivos, se tornar líder do governo na gestão de Marcelo Crivella e ainda trabalhar a favor da vitoriosa candidatura de Eduardo Paes, em 2020.

Em relação à Medicina, Jairinho fez questão de constar nas primeiras linhas de seu depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca), em 17 de março, na condição de testemunha da morte de seu enteado, Henry Borel Medeiros, nove dias antes, que nunca exercera a profissão. Ao relatar que, após encontrar com a namorada, a professora Monique Medeiros da Costa e Silva de Almeida, o filho dela caído no quarto com mãos e pés gelados e olhos arregalados, negou ter feito qualquer manobra de reanimação por falta de experiência. E contou que a última vez que realizara massagem cardíaca foi em um boneco, durante as aulas do curso de graduação.

Já no ofício parlamentar, muitos dos projetos de sua autoria e coautoria estão justamente ligados ao bairro de seu nascimento na Zona Oeste. É dele o texto que defende o tombamento da sede do Céres Futebol Clube, time de Bangu que disputa divisões inferiores do futebol carioca e cujo presidente é Jairo Souza Santos, o coronel Jairo, pai de Dr. Jairinho. É dele também a concessão do benefício de licença maternidade e paternidade para servidores públicos que adotem crianças e a suspensão da aprovação automática na rede municipal de ensino.

“O foco de seu mandato está na restituição da dignidade ao cidadão pelo atendimento do poder público no quesito saúde, sem deixar de pensar na educação dos jovens. De espírito empreendedor, apoia as iniciativas que buscam a melhoria da qualidade de vida da população”, diz o seu perfil no site da Câmara.

Com a ex-mulher, a dentista Ana Carolina Ferreira Netto, mãe de dois de seus três filhos, dividiu uma cobertura no Le Park. Em novembro passado, mudou-se com Monique e Henry para uma unidade do Majestic, no Cidade Jardim. Após a morte do menino, porém, contou na delegacia ter voltado para a casa dos pais e da irmã, sua fiel escudeira nas campanhas políticas. Foi lá que foram apreendidos cinco telefones celulares e um laptop na manhã de 26 de março. Durante a diligência do inquérito, porém, o aparelho de Coronel Jairo não foi localizado. Aos agentes, o deputado disse que o equipamento já havia sido levado durante a operação Furna da Onça, uma das fases da Lava Jato no Rio, deflagrada pela Polícia Federal em 2018, quando foi preso.

De acordo com o Ministério Público Federal, ele era suspeito de participação no 'mensalinho' da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), um esquema que movimentou R$ 54 milhões em pagamentos para que deputados votassem com o governo. A organização criminosa, que seria chefiada pelo ex-governador Sérgio Cabral, dava propina aos parlamentares para que patrocinassem interesses do grupo, que ainda oferecia o loteamento de cargos em diversos órgãos públicos do estado, como o Detran, onde poderiam alocar mão de obra comissionada ou terceirizada.

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